Correio Braziliense, n. 20624, 10/11/2019. Política, p. 2

Governo ataca milícias, ataca Lula

Renato Souza


Em seu segundo discurso após sair da cadeia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou críticas ao governo. Usando um tom mais radical em suas declarações, o petista criticou a agenda econômica; atacou a força-tarefa da Lava-Jato e o ministro Sergio Moro; e disse que o presidente Jair Bolsonaro “governa para milicianos”. Ele participou de um ato na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Paulo, local onde se entregou para a Polícia Federal, em abril do ano. Em cerca de meia hora, Lula lançou campanha antecipada e afirmou que vai percorrer o país, destacando que vai atuar para que a esquerda vença as eleições de 2022.

O ex-presidente subiu em um trio elétrico e discursou ao lado de outras lideranças de esquerda, como o deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ), a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-RS), e Guilherme Boulos, do MTST. Apesar de afirmar que não apoia um impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente chegou a convocar manifestações contra os atos do Poder Executivo. “Eu quero dizer uma coisa para vocês. Não tem outro jeito. Não tem ninguém que conserte este país se vocês não quiserem consertar. Não adianta ficar com medo. Ficar preocupado com as ameaças que eles fazem na televisão, que vai ter AI-5 outra vez. A gente tem que ter a seguinte decisão. Este país é de 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que os milicianos acabem com este país”, disse.

Por diversas vezes, ele citou nominalmente Jair Bolsonaro e fez fortes críticas às políticas de governo. “No discurso do Bolsonaro de ontem, ele chegou a confessar que ele devia as eleições ao Moro (ministro da Justiça, Sergio Moro). Na verdade, ele deve ao Moro, ao juízes que me condenaram e à campanha de fake news e de mentira que fizeram ganhar do companheiro Fernando Haddad”, disse, se referindo à vitória de Bolsonaro nas eleições do ano passado.

O petista disse ter se inteirado de dados econômicos e citou o número de pessoas desempregadas. Afirmou ainda que as desigualdades sociais estão aumentando, e que os dados do setor econômico divulgados pelo governo não representam a realidade da população. O petista acusou o presidente de governar para integrantes de milícia. “Esse cidadão foi eleito (Jair Bolsonaro). Democraticamente, aceitamos o resultado da eleição. Agora, ele foi eleito para governar para o povo brasileiro. E não para governar para os milicianos do Rio de Janeiro”, completou o ex-presidente.

De acordo com Lula, quando foi preso, em abril do ano passado, ele tinha à sua frente outras opções, além de aceitar ser preso, mas que optou em enfrentar o processo. “Eu tomei a decisão de ir lá na Polícia Federal. Eu poderia ter ido para uma embaixada, para outro país. Mas eu fui lá para provar que o Moro não é um juiz, é um canalha. Eu tive que provar que Dallagnol não é um procurador que representa o Ministério Público. Ele montou uma quadrilha para roubar a Petrobras”, acusou o ex-presidente.

América do Sul

Ao fim das declarações, Lula lembrou de revoltas populares que estão ocorrendo em outros países da América do Sul, como o Chile, o Peru e o Equador, e convocou o povo para ir às ruas. No entanto, ele não marcou data ou fez referência a atos específicos. “Os nossos deputados vão ter que virar leões naquele Congresso para não deixar eles aprovarem o que querem contra o povo trabalhador. Temos que seguir o exemplo do povo da Bolívia, do Chile, do Equador. Não é só lutar, é resistir. É atacar. Estamos muito calmos”, completou.

Pelo Twitter, o ministro Sergio Moro, sem citar o ex-presidente, afirmou que não comenta ações de quem viola a lei. “Aos que me pedem respostas a ofensas, esclareço: não respondo a criminosos, presos ou soltos. Algumas pessoas só merecem serem ignoradas”, escreveu.

Frases

“Eu fui lá para provar que o Moro não é um juiz, é um canalha. Eu tive que provar que Dallagnol não é um procurador que representa o Ministério Público”

“Democraticamente, aceitamos o resultado da eleição. Agora, ele (Bolsonaro) foi eleito para governar para o povo brasileiro. E não para governar para os milicianos do Rio de Janeiro”