O Estado de S. Paulo, n. 46161, 06/03/2020. Economia, p. B4

‘Não tem nada errado com o câmbio, é flutuante’
André Ítalo Rocha
Pedro Caramuru


 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que o câmbio é flutuante e que não há “nada de errado” com a cotação da moeda americana, que chegou a R$ 4,66 durante o pregão de ontem e fechou valendo R$ 4,65. No ano, a moeda dos EUA acumula alta de quase 15,95%. “A flutuação do câmbio está num nível mais alto”, disse.

Segundo o ministro, que participou de um almoço na Fiesp, o novo patamar do dólar reflete uma mudança de modelo econômico, que inclui diminuição de gastos públicos e juros baixos: “O Brasil era o paraíso dos rentistas”. Guedes afirmou também não acreditar que esteja havendo uma fuga de capital.

O ministro afirmou que “isso (a alta do dólar) era perfeitamente previsível”. Em seguida, ensaiou uma lista de explicações. “Tem o coronavírus, a desaceleração global, incertezas... O que vocês (imprensa) estavam dizendo há um ou dois dias? Que está um caos, que o presidente não se entende com o Congresso, que não está havendo coordenação política, toda hora tem uma bomba... Se está havendo todo esse frisson, o dólar sobe um pouco.”

O ministro sugeriu que a mídia tem relação com o aumento do dólar. “Como estamos confiantes de que a mídia vai entender que o Brasil está mudando para melhor, é uma questão de tempo. Se vocês estiverem menos nervosos daqui a um mês, quem sabe o dólar acalma”, disse. Além disso, Guedes afirmou que o modelo econômico do Brasil é “quatro por quatro”, com juros na casa dos 4% e dólar na casa dos R$ 4.

Ao ser questionado se o dólar poderia chegar a R$ 5, Guedes disse que isso pode acontecer se ele, enquanto ministro, “fizer muita besteira”. “Se eu fizer tudo certo, o dólar cai”, afirmou o ministro, que disse estar confiante nas reformas. “O presidente Bolsonaro está encaminhando”, afirmou.

O ministro, contudo, admitiu que ainda há dúvidas no mercado em relação ao avanço das reformas, com base em notícias veiculadas pela imprensa. “As reformas que faltam, como administrativa e tributária, ainda não foram implementadas. Quando forem feitas, os investimentos virão mais rápido.”

Para o ministro, o papel do governo é implementar reformas, enquanto a função dos empresários é investir. “Estamos desmontando a máquina de endividamento em bola de neve”, disse. “Brasil cresce com investimento privado, sem anabolizante, é tudo sustentável.”

Guedes reiterou que o governo vai encaminhar a reforma administrativa para a Câmara, sem detalhar um prazo, e ressaltou que o governo “colocou” o pacto federativo no Senado. O ministro disse ainda que os juros “desabaram” e que, graças a isso, o governo federal vai gastar R$ 120 bilhões a menos com juros este ano.

PIB. Guedes afirmou que a projeção dele para o PIB em 2020 é de crescimento de 2% e admitiu que trabalha com uma estimativa diferente da calculada pela Secretaria de Política Econômica (SPE), subordinada à pasta que ele comanda. A previsão da SPE para 2020 é de expansão de 2,4% e a expectativa é que o número seja revisado na semana que vem. Guedes disse que “sempre” trabalhou com um cenário em que a economia crescia 1% no primeiro ano do governo Bolsonaro e 2% no segundo ano. Guedes ressaltou que a estimativa da SPE é calculada por “economistas sofisticados”, que recorrem a modelos econométricos.

Reformas que faltam

“As reformas que faltam, como administrativa e tributária, ainda não foram implementadas. Quando forem feitas, os investimentos virão mais rápido.”

Paulo Guedes

Ministro da Economia