O Estado de S. Paulo, n. 46161, 06/03/2020. Metrópole, p. A10

Brasil tem pela 1ª vez contágio local do coronavírus; há 8 casos confirmados
Mateus Vargas 
Fábio Grellet
Ludimila Honorato
Vinícius Range


 

O Brasil tem oito casos confirmados do novo coronavírus e já há transmissão local da doença. São seis relatos positivos em São Paulo, 1 no Rio de Janeiro e outro no Espírito Santo. Uma mulher tem teste positivo no Distrito Federal e aguarda contraprova. Mesmo assim, o Ministério da Saúde informou que não haverá mudanças na estratégia de combate à doença.

Pelo boletim mais recente, o número de casos suspeitos da doença passou em 24 horas de 531 para 636 – 182 em São Paulo. Só Acre, Amapá, Maranhão, Tocantins e Roraima não investigam relatos – embora tenham descartado suspeitas. Já foram descartadas 378 análises em todos os Estados.

De acordo com o ministério, já há transmissão local da doença, com dois casos em São Paulo. As pessoas infectadas dentro do País têm relação com o primeiro caso confirmado, de um homem de 61 anos que voltou da Itália, e são do sexo feminino. A primeira pegou a infecção por contato com o homem durante uma reunião com cerca de 30 pessoas, no fim de semana em que ele voltou de viagem. Na sequência, ela transmitiu a doença para a outra paciente.

Não há detalhes ainda sobre a evolução clínica do primeiro paciente diagnosticado no Brasil. Sabe-se que ele continua com sintomas e está em casa.

Com transmissão interna, o Brasil pode ser inserido em uma lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) de países em monitoramento para o novo coronavírus, segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira. Para uma pessoa ser investigada para o vírus em qualquer país, ela precisa ter passado por um dos locais dessa lista.

Outros Estados. O primeiro caso de coronavírus no Rio foi anunciado ontem pelo governo do Estado. Trata-se de uma mulher brasileira de 27 anos que mora em Barra Mansa e esteve na Europa, passando por Itália e Alemanha entre 9 e 23 de fevereiro. Ela apresentou sintomas no dia 17 (tosse, coriza e falta de ar) e buscou atendimento médico no Brasil na segunda-feira, segundo o ministério. No Estado do Rio, há 79 suspeitas sendo monitoradas. A confirmação desse caso foi feita ainda pelo secretário estadual de Saúde fluminense, Edmar Santos.

De acordo com Santos, a paciente viajou com o marido e passou pela Itália (Milão e Lombardia) e pela Alemanha. O marido não apresenta sintomas, mas é monitorado. Os primeiros sintomas dela foram tosse e coriza, que surgiram no dia 17, quando o casal ainda estava na Europa. Mas esse quadro não se apresentou durante o voo.

Ela procurou uma unidade de saúde em Barra Mansa no sábado e passou a cumprir isolamento domiciliar de 20 dias. No domingo, coletou material para exames realizados pelo Laboratório Central Noel Nutels (Lacen-RJ), que emitiu laudo no dia 3. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também recebeu amostra e confirmou o diagnóstico. O marido e outros familiares dessa paciente estão sendo monitorados, mas não estão em isolamento. Pessoas que ocuparam poltronas vizinhas no avião em que ela voltou ao Brasil estão sendo localizadas e também serão monitoradas, a exemplo do que ocorreu com outros viajantes que testaram positivo. “Trata-se de um caso importado. Não há indício de que o vírus esteja circulando pelo Estado do Rio”, afirmou o secretário de Saúde. “Não há motivo para pânico na população fluminense”, afirmou.

Já o caso diagnosticado no Espírito Santo é de uma mulher de 37 anos que esteve na Itália. A Secretaria Estadual de Saúde informou que ela procurou atendimento em um hospital no dia 24 do mês passado. O município onde a paciente mora e onde buscou ajuda, não foram divulgados. “Os dados não serão divulgados por uma questão de privacidade”, disse o subsecretário Luiz Carlos Reblin.

Já o caso suspeito no Distrito Federal é de uma mulher de 53 anos que esteve na Inglaterra e Suíça entre 25 de fevereiro e 2 de março. Ela testou positivo para o novo coronavírus em um exame feito em hospital privado e passará por contraprova no Laboratório Central de Goiás. Por enquanto, ela permanece internada.

Transmissão e estratégia. O secretário Oliveira frisou que o Brasil ainda não tem “transmissão comunitária”, o que seria mais grave. “O vírus não está produzindo doentes que não conseguimos identificar a fonte”, explicou. Apenas China, Itália e Coreia do Sul têm transmissão sustentada.

Mesmo com oito casos confirmados no País, o Ministério da Saúde não mudará ainda a estratégia sobre combate à doença. “Não tem o menor sentido, por exemplo, fechar escolas neste momento em que não há transmissão comunitária”, exemplificou o secretário. A pasta mantém a recomendação de fazer higiene simples, como lavar as mãos e usar álcool em gel 70%, se hidratar e buscar atendimento médico em caso de sintomas suspeitos de covid-19. / Colaboraram Fábio Grellet, Ludimila Honorato e Vinícius Rangel, Especial para O Estado

Diagnóstico

Os primeiros casos relatados tiveram análise pelo Hospital Albert Einstein. Conforme a rede particular registre positivos, a ideia do ministério é criar uma rede nacional de análises.

Transmissão

• Caso importado

Definido quando o paciente foi diagnosticado em determinado local, mas infectado em outro, como foi o caso do empresário de 61 anos que começou a manifestar sintomas no Brasil, mas cuja contaminação havia ocorrido durante viagem à Itália.

• Caso importado

Definido quando o paciente foi diagnosticado em determinado local, mas infectado em outro, como foi o caso do empresário de 61 anos que começou a manifestar sintomas no Brasil, mas cuja contaminação havia ocorrido durante viagem à Itália.  

• Transmissão sustentada

Pode ser chamada também de transmissão comunitária e é o cenário mais preocupante: ocorre quando o número de casos é tão alto que fica impossível estabelecer a cadeia de transmissão para cada indivíduo. Nesse estágio, o vírus já está circulando de forma significativa. É o caso da China, onde a doença já infectou mais de 80 mil pessoas, em todas as províncias.