Correio Braziliense, n. 20628, 14/11/2019. Mundo, p. 13

Embaixador complica Trump



O primeiro dia de audiências públicas e televisionadas do processo para o impeachment contra Donald Trump foi marcado por um depoimento explosivo, que implica ainda mais o presidente norte-americano na tentativa de pressionar a Ucrânia a investigar o democrata Joe Biden. William “Bill” Taylor Jr, encarregado de negócios dos Estados Unidos em Kiev, relatou ao Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes que o magnata republicano se preocupou mais com as “investigações de Biden” do que com a luta contra a corrupção no país do Leste Europeu.

Os democratas, que controlam a Câmara, acusam Trump de usar a política externa para seu benefício político, usando a assistência militar dos Estados Unidos para pressionar Kiev a abrir uma investigação sobre um suposto caso de corrupção envolvendo Biden e seu filho Hunter, que fez parte do conselho da empresa de gás ucraniana Burisma. Ex-vice-presidente de Barack Obama, Biden é um dos favoritos entre os pré-candidatos democratas para enfrentar Trump nas eleições de 2020. “Reter assistência militar em troca de ajuda com uma campanha política nacional nos Estados Unidos seria uma loucura”, afirmou Taylor.

Segundo o site The Hill, o alto diplomata dos EUA descreveu uma conversa entre um membro de sua equipe e o embaixador norte-americano na União Europeia, Gordon Sondland. “O embaixador Sondland telefonou para o presidente Trump e lhe contou sobre seus encontros em Kiev. O integrante de meu gabinete pôde escutar o presidente Trump ao telefone, perguntando ao embaixador Sondland sobre as investigações”, disse Taylor aos congressistas. “O embaixador Sondland respondeu que Trump se importa mais com as investigações de Biden, as quais (Rudy) Giuliani (advogado do presidente) estava pressionando (a Ucrânia)”, acrescentou.

“As principais interrogações da investigação — se Trump abusou do poder de seu cargo e se essas ações merecem um julgamento político — devem ser feitas sem rancor, se possível, sem demora, de todos os modos, e sem favorecimento ou preconceito do partido, se formos fiéis às nossas responsabilidades”, declarou o presidente do Comitê, o democrata Adam Schiff. “Se isso não for uma conduta digna de impeachment, o que é?”, questionou, ao classificar de “evidentemente muito importante” a informação fornecida por Taylor.

Trump parece ter ficado incomodado com os depoimentos de Taylor e de George Kent, alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano. Disparou mais de 30 tuítes, enquanto a sabatina transcorria no Capitólio. Ao ser questionado sobre os interesses de Giuliani na Ucrânia, Kent respondeu ontem: “Acredito que ele estava buscando desenterrar a sujeira política contra um possível adversário no próximo ciclo eleitoral”.

“Se isso não for uma conduta digna de impeachment, o que é?"

Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes e democrata, sobre as denúncias de William Taylor