Correio Braziliense, n. 20628, 14/11/2019. Política, p. 4

De olho na verba do banco do Brics

Bernardo Bittar
Simone Kafruni


Os cinco países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — apostam na liberação de financiamentos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) para ampliar os investimentos em infraestrutura. A instituição garante que haverá aceleração dos empréstimos e estuda fazê-los nas moedas locais de cada país.

K. V. Kamath, presidente do NDB, afirmou que o banco quer acelerar os objetivos do grupo. “Faz quatro anos que iniciamos nossas operações. No início, os projetos eram montados por órgãos de governo com garantia soberana. Com o tempo, consideramos projetos do setor privado”, explicou. “Por conta da volatilidade das taxas de câmbio, exploramos fazer negócios em moedas locais. Isso já ocorre na China e em 40% dos financiamentos na África do Sul.”

Durante o painel “Oportunidade de investimentos no Brics”, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que o país ficaria muito feliz em ver investimentos no setor ferroviário. “Temos duas ferrovias com leilões previstos para o ano que vem, que podem representar um renascimento. Queremos contar com trens de passageiros. Os nossos parceiros já entraram no Brasil com energia e no setor portuário, por que não no ferroviário?”, provocou.

Guinada

Freitas comemorou a evolução da conversa com o NDB. “Recebemos uma série de boas notícias do banco e temos um programa de concessão sofisticado na estruturação de projetos. Acho que o NDB pode entrar na modalidade de garantias e provocar uma guinada, alavancando o desenvolvimento dos projetos”, ressaltou.

Trofim Yakovlev, chefe adjunto de Divisão da JSC Russian Railways, empresa ferroviária da Rússia, destacou interesse nos projetos brasileiros. “Somos uma empresa global. Temos iniciativas na África do Sul. Queremos construir ferrovias na Índia e temos iniciativas no Brasil. Mas tudo depende de financiamento. Com o NDB, esperamos ampliar o leque de investimentos”, contou.

Por sua vez, Chen Zhong, vice-presidente da China Communications Construction Company, comentou que o banco vai ampliar as possibilidades de investimento intra-Brics. “Projetos de infraestrutura são de longo prazo. Por isso, a chave para apostar neles é estabilidade”, frisou.

Diretor da Área de Risco do banco IDC, Phakamile Mainganya sugeriu que o NDB empreste para bancos para que esses, por sua vez, façam financiamentos às pequenas e médias empresas. “Na África do Sul, o IDC pode agregar os pequenos projetos, temos balancete forte, podemos fazer empréstimos junto ao NBC e financiar as pequenas e médias nos nossos países. Assim, seria possível acelerar os negócios”, sustentou.

"Temos duas ferrovias com leilões previstos para o ano que vem, que podem representar um renascimento. Queremos contar com trens de passageiros. Os nossos parceiros já entraram no Brasil com energia e no setor portuário, por que não no ferroviário?”

Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura