Correio Braziliense, n. 20628, 14/11/2019. Política, p. 2

Brasil busca ampliar parceria com a China

Bernardo Bittar
Simone Kafruni


A sessão plenária da 11ª Cúpula dos Brics acontece hoje, mas o presidente Jair Bolsonaro deu o pontapé inicial nas negociações comerciais ontem. Em reunião bilateral, no Palácio do Itamaraty, com o presidente da China, Xi Jinping, os dos chefes de Estado se dispuseram a ampliar a parceria nas áreas econômica, jurídica e cultural. Os governos brasileiro e chinês assinaram nove atos, entre os quais se destaca o intercâmbio de tecnologia na área do agronegócio. O Brasil facilitará a venda de sua expertise na área e a China responderá aportando investimentos e negociando sua tecnologia na área social e em infraestrutura e construção. A ideia é usar a inovação na busca pelo crescimento econômico.

A busca por tecnologia e desenvolvimento da economia digital acabou sendo o foco principal das conversas entre China e Brasil, que teve uma diferença de enfoque. Enquanto Bolsonaro se concentrou nas relações bilaterais, Xi Jinping aproveitou o evento diplomático para defender a multilateralidade e a redução do protecionismo no comércio global, numa referência à guerra comercial que trava com os Estados Unidos. “Vamos nos esforçar para que a cúpula obtenha resultados frutíferos e emita sinais positivos de apoio ao multilateralismo, que dá justiça internacional e desenvolvimento aos países”, destacou.

A relação entre os dois países em 2019 não começou bem. Em outubro do ano passado, durante a campanha eleitoral, Bolsonaro criticou a relação entre os dois países. “A China não compra no Brasil. A China está comprando o Brasil”, disse, à época. Empossado, porém, o presidente adotou o pragmatismo e, ontem, enalteceu o bom relacionamento com o principal parceiro comercial do país. “A China é nosso primeiro parceiro comercial e, com toda minha equipe, bem como com o empresariado brasileiro, queremos mais que ampliar, queremos diversificar nossas relações comerciais”, disse o chefe do Executivo.

Em discurso após a assinatura dos atos, Bolsonaro destacou que a China “faz parte do futuro do Brasil”. “O nosso governo vai, cada vez mais, tratar com o devido carinho, respeito e consideração esse gesto do governo chinês”, declarou, em referência ao apoio explícito da China à soberania brasileira sobre a Amazônia, durante a crise das queimadas na região, entre setembro e outubro. “Todos nós, brasileiros e chineses, temos o que ganhar em momentos como esse”, avaliou. Assuntos políticos, porém, ficaram notoriamente fora dos encontros de ontem dos líderes do Brics, e não sem razão. Afinal, China e Rússia, por exemplo, apoiam o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, hostilizado por Bolsonaro. A Rússia condenou, ainda o golpe que levou à renúncia de Evo Morales na Bolívia. Desse modo, a economia deu o tom das conversas.

Os afagos de Bolsonaro foram retribuídos por Xi Jinping, que se dispôs a trabalhar com o Brasil pela promoção do intercâmbio e “confiança mútua”. “Vamos aproveitar nossas vantagens para o desenvolvimento comum, com igualdade, abertura (de mercado) e benefícios ao povo. A China gostaria de tratar a cooperação de três ou mais partes baseada no respeito às vontades dos países para fazer um bolo maior e realizar ganhos compartilhados”, disse. “Concordamos que China e Brasil são os principais mercados emergentes”, acrescentou.

Diversificação

O encontro com Xi Jinping antecedeu a reunião de Bolsonaro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, recebido à tarde no Palácio do Planalto. No encontro, eles acertaram a visita do presidente brasileiro à Índia, em 26 de janeiro, Dia da República naquele país. Entre os assuntos debatidos com o mandatário indiano, a diversificação das relações comerciais no setor alimentício foi o tema central. “Modi salientou o interesse indiano nas áreas de processamento de alimentos e da agropecuária, haja vista o conhecimento e a tecnologia das empresas brasileiras”, informou uma nota da Presidência da República. Durante a conversa, Bolsonaro disse “ser importante prever, por ocasião de sua visita à Índia, atividades paralelas para aproximar os setores privados dos dois países” e disse querer ampliar a cooperação em áreas como bicombustíveis e tecnologia.

Frase

"Vamos aproveitar nossas vantagens para o desenvolvimento comum, com igualdade, abertura (de mercado) e benefícios ao povo. China e Brasil são os principais mercados emergentes”

Xi Jinping, presidente da China

Aproximação

Acordos ampliam cooperação entre Brasil e China

Tratado sobre transferência de pessoas condenadas

Permitirá a transferência de pessoa condenada para o território da outra parte. Caso sejam cumpridos certos requisitos, um brasileiro condenado na China poderá cumprir a pena no Brasil e vice-versa.

Setor de serviços

Os dois governos vão facilitar e promover a cooperação, o diálogo e o comércio relativos a serviços de diversas áreas.

Cooperação entre autoridades de transportes

Prevê compartilhamento e trocas de boas práticas para desenvolvimento do setor.

Medicina tradicional, complementar e integrada

Pretende estabelecer cooperação interinstitucional ampla entre o Brasil e a China no campo de saúde.

Investimentos

Intercâmbio de informações e cooperação com vistas à promoção de ações conjuntas para fomentar atividades que ampliem investimentos, desenvolvimento econômico e empregos.

Intercâmbio cultural e audiovisual

Prevê o intercâmbio de filmes e programas televisivos e a promoção de festivais de cinema brasileiro na China e festivais de cinema chinês no Brasil. Haverá conversas sobre a possibilidade de estabelecer canal de televisão por assinatura dedicado a programas e filmes sino-brasileiros.

Plano de ação na área da agricultura (2019-2023)

O documento visa aprofundar a colaboração nas áreas de políticas agrícolas; inovação científica e tecnológica; investimento agrícola; comércio agrícola; entre outras.

Protocolos sanitários para exportação de pera da China ao Brasil e de melão do Brasil para a China

Estabelecem requisitos para evitar o ingresso de pestes ou pragas do país exportador no país importador.