Correio Braziliense, n. 20649, 05/12/2019. Política, p. 4

Joice denuncia milícia virtual
Bernardo Bittar


Em audiência na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre fake news, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) acusou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de comandar ataques contra desafetos da família presidencial. “Eduardo está amplamente envolvido e é um dos líderes desse grupo que chamamos de milícia virtual”, disparou ela, que apresentou gráficos sobre como seria feito o disparo de mensagens falsas na internet, sob o comando da família do chefe do Executivo e de aliados. A parlamentar afirmou, ainda, que “a rede social de Eduardo é uma das que mais influenciam ataques”.

Ao trazer números pesquisados a pedido dela para a CPMI, Joice disse que técnicos passaram um pente-fino no perfil do presidente da República no Twitter, onde encontraram 1,4 milhão de seguidores fantasmas. No de Eduardo, seriam quase 500 mil robôs.

Embora tenha atacado a família Bolsonaro, Joice ressaltou que o objetivo dela não é “arruinar a imagem do presidente”. “Ajudei a eleger o presidente da República e parte da bancada. Meu objetivo é mostrar o fruto de uma investigação que fiz depois que virei alvo de ataques coordenados e, infelizmente, (pagos) com dinheiro público.”

Na audiência, a deputada afirmou que há uma tabela com cronograma de dias e alvos a serem atacados pelo chamado “gabinete de ódio” — formado, segundo ela, por assessores próximos do presidente, muitos deles colocados ali por indicação da família.

De acordo com Joice, um único disparo por robôs custa, em média, R$ 20 mil. “De maneira, digamos, legal, comprovável imediatamente, (são destinados) praticamente R$ 500 mil, de dinheiro público, para perseguir desafetos. Essa é a função do gabinete do ódio. Nós estamos falando de crime. Caluniar, difamar e injuriar são crimes previstos no Código Penal”, destacou.

Joice afirmou não saber quem financia tal cadeia de difamação, mas sugeriu à comissão que “siga o rastro do dinheiro, porque estamos falando de milhões”. Apesar de não apontar eventuais financiadores do esquema, a deputada declarou que boa parte da fonte das notícias falsas e campanhas difamatórias têm origem em gabinetes de políticos aliados do governo.

Ao ser questionado pela imprensa sobre a atuação do gabinete do ódio, Bolsonaro afirmou, ontem: “Inventaram o ‘gabinete do ódio’, e alguns idiotas acreditaram. Outros idiotas vão até prestar depoimento, como tem um idiota prestando depoimento uma hora dessas lá”.  (Com Agência Estado)