O Estado de S. Paulo, n. 46158, 03/03/2020. Metrópole, p. A20
 

Segundo caso de coronavírus do país tem genoma diferente do 1º
Giovana Girardi


 

Em menos de 48 horas após o registro do segundo caso de infecção por coronavírus no País, uma equipe de pesquisadores brasileiros conseguiu novamente sequenciar o genoma do vírus. São os mesmos cientistas que tinham feito o primeiro sequenciamento, em um procedimento que deve virar rotina para a doença. E a nova análise mostra que o patógeno do segundo caso é levemente diferente do primeiro.

Pela análise, o primeiro tinha se assemelhado mais com vírus que haviam sido sequenciados na Alemanha. Já o segundo se aproxima mais de vírus sequenciados na Inglaterra. E ambos são diferentes das sequências chinesas. Nos dois casos, porém, os pacientes foram contaminados na Itália, mas, como cientistas italianos ainda não apresentaram os sequenciamentos dos vírus que estão no país, a comparação não pôde ser feita com o material de lá.

Segundo a pesquisadora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), que compõe os esforços de sequenciamento com pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da Faculdade de Medicina da USP, essas variações confirmam que a transmissão interna entre os países da Europa já está bem estabelecida.

“A epidemia já está há algum tempo na Europa e passa de um país a outro. Mas nesse momento ainda não conseguimos saber se ela foi da China para a Alemanha e a Inglaterra e de lá para a Itália ou se foi para a Itália e de lá foi para a Inglaterra.” Ela explica que, a cada mês que passa, o vírus sofre uma mutação e fica com uma espécie de código da região por onde passou, mostrando o seu caminho.

“Ainda é arriscado inferir muita coisa com apenas dois genomas, mas o que podemos dizer é que os dois casos não tiveram a mesma fonte de contaminação. Isso é importante para epidemiologistas rastrearem a dinâmica da doença”, explica Claudio Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz, que coordena os trabalhos.

Rapidez. Ele diz que os próximos sequenciamentos não devem ser tão rápidos. Para analisar os genomas em tempo tão curto, ele conta que os cientistas quase não dormiram. O trabalho faz parte do projeto Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e pelo Medical Research Center, do Reino Unido, que desenvolve técnicas para monitorar epidemias em tempo real.