Correio Braziliense, n. 20713, 07/02/2020. Brasil, p. 6

Secretários sugerem antecipar vacinação

Maria Eduarda Cardim



Reunido com os secretários de Saúde dos estados e capitais de todo o país na sede do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Brasília, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, classificou o cenário do Brasil contra o coronavírus como “intermediário”, por uma questão de cautela. Em uma nova atualização dos casos do Brasil, o Ministério da Saúde informou ontem que o número de casos suspeitos do novo vírus no país voltou a cair. Nove são suspeitos, 24 já foram descartados e nenhum foi confirmado. Sem casos confirmados dentro do país, o Brasil se prepara para receber os brasileiros repatriados da cidade de Wuhan, na China, epicentro da doença.

São Paulo e Rio Grande do Sul, com três suspeitos cada, são os estados que reúnem mais casos investigados no momento. Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que voltou a aparecer na tabela de casos suspeitos, apresentam um cada. Outros 24 casos foram descartados. A maioria se encaixou no diagnóstico de Influenza B e Influenza A. Outros foram diagnosticados como Rhinovírus e Adenovírus. Uma das sugestões dos secretários na reunião foi justamente antecipar a campanha de vacinação contra influenza, que ocorre todos os anos.

De acordo com Mandetta, a campanha deve começar em março, como já estava prevista antes mesmo do surgimento do novo coronavírus. No entanto, o ministro confirmou que a vacinação pode ajudar o profissional de saúde a fazer o diagnóstico das doenças. Mandetta estima que 72 milhões de doses estarão disponíveis. Os secretários também demonstraram preocupação com a falta de equipamento de proteção individual, mas o ministro tranquilizou os gestores. “Vemos que estão todo mundo querendo adquirir em um volume maior. Então, é natural que a indústria tenha um período de adaptação das suas linhas de produção. Mas temos um bom estoque e vamos tentar fazer esse estoque adicional”, reforçou.

O Ministério da Saúde já havia anunciado que disponibilizará RS 140 milhões para compra de equipamentos de proteção individual, como máscaras, toucas, luvas descartáveis e óculos. A compra dos equipamentos acontecerá mesmo se não houver casos confirmados no Brasil.

Na reunião, Mandetta disse esperar dos estados uma atualização dos planos de contigência até segunda-feira. “Esse plano já existe, mas eles vão atualizar. Eles fazem o ajuste final e a gente coloca no nosso sistema porque esses planos ajudam também o cidadão a saber qual é a orientação dos gestores”, explicou. O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde e secretário de Saúde do Pará, Alberto Beltrame, acrescentou que essas atualizações são pontuais, por exemplo, mudanças de hospitais-referência. “São ajustes que já estão sendo feitos. Foi, sobretudo, uma reunião de alinhamento e renovação de compromissos que já temos no passado”, afirmou.

Voo de brasileiros

Ontem à noite, o Planalto informou que o presidente Jair Bolsonaro sancionou o projeto de lei que estabelece os termos da quarentena no Brasil. O projeto foi aprovado em regime de urgência pelo Congresso, na primeira semana de atividades.

As aeronaves enviadas pelo governo federal para resgatar brasileiros em Wuhan, na China, poderão trazer cidadãos de outros países, caso haja disponibilidade de espaço nos voos. A informação foi dada pelo presidente Jair Bolsonaro durante live semanal transmitida na noite desta quinta-feira (6). Um pedido de carona, segundo o presidente, já foi solicitado pelo governo da Polônia. “Talvez, se tivermos apenas em torno de 40 brasileiros para trazer para cá, como sobrariam em torno de 10 vagas, eu já autorizei a trazer nacionais de outros países. Se for da América do Sul, pousa aqui. Parece que entrou um pedido da Polônia agora e, obviamente, como vai pousar em Varsóvia (capital polonesa), eles foram gentis para conosco, e têm poloneses lá [em Wuhan], se quiserem retornar, [eles] vêm e desembarcam em Varsóvia e tudo bem”, disse o presidente.

As duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) na terça-feira de Brasília com destino a Wuhan. A expectativa é de que eles tragam de volta ao Brasil as 34 pessoas (brasileiros e parentes) que se encontram na cidade epicentro do surto de coronavírus. Na volta, as aeronaves farão cinco escalas: Urumqi (China), Varsóvia (Polônia), Las Palmas (Espanha) e Fortaleza (CE), até o pouso final em Anápolis (GO). Só poderão embarcar na China pessoas que não apresentarem sintomas da doença. Uma equipe de médicos militares fará exames preliminares ainda em solo chinês. A previsão é de que os aviões cheguem ao Brasil amanhã, com desembarque na Base Aérea de Anápolis, em Goiás. Todos os resgatados, bem como a tripulação de militares, equipe médica e o cinegrafista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que estão a bordo, passarão por uma quarentena de 18 dias nas instalações da base, seguindo protocolos e instruções oficiais visando à segurança de todos envolvidos. Os cidadãos isolados terão tratamento gratuito e o direito de serem informados permanentemente sobre seu estado de saúde.

O diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, informou que as instalações na Base Aérea de Anápolis estão preparadas para receber os resgatados. Ele buscou tranquilizar os moradores da região. “Se vai ter um lugar no Brasil muito difícil desse vírus se disseminar será Anápolis, porque toda a estrutura de segurança sanitária, todas as medidas estão sendo tomadas para acolher os nossos cidadãos brasileiros que estavam em situação difícil na China", afirmou. Com informações da Agência Brasil.