Correio Braziliense, n. 20631, 17/11/2019. Cidades, p. 21

Integração necessária e vantajosa



Brasília nasceu pensada para carros, favorecendo a presença de mais estradas do que trilhos na capital federal. Inaugurado em 2001, o sistema metroviário do DF tem semelhanças com o de cidades mais antigas. Uma delas é São Paulo, onde o modal tem 96km para atender à população do município de 1,52 mil quilômetros quadrados de área. No DF, cuja extensão territorial se aproxima de 5,7 mil km², a malha metroviária tem 42,3km.

Na capital paulista, no entanto, a demanda pelo metrô é baixa, segundo explica Carolina Requena, do Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP). “Apesar de transportar bastante gente, eu diria que ele não é a primeira opção da maioria da população. Uma das explicações é a tarifa e a falta de reintegração. Como não se paga um único bilhete para mudar do ônibus para o metrô, acaba que ele não é muito vantajoso. E as rendas são mais baixas na região metropolitana (onde o metrô não circula). (Ao chegar à capital), a pessoa acaba optando por trocar de ônibus várias vezes, usando o bilhete único, em vez de pegar o metrô, porque sai mais caro”, avalia. Carolina defende uma rede entre diferentes modais e recomenda cuidado com os termos dos contratos estabelecidos a fim de garantir a preservação do interesse público.

Expansão

Morador do Guará, o administrador Rodrigo Rodrigues, 33 anos, encontra no metrô alternativa para deixar o carro na garagem, especialmente quando visita as áreas de maior movimentação. A rapidez do trajeto e o preço do combustível são aspectos que o fazem preferir o sistema sobre trilhos. “É vital manter a manutenção desse meio de transporte, principalmente porque ele conecta a população das cidades-satélites ao centro, locais onde a maioria busca lazer e também trabalha”, analisa.

Apesar dos elogios ao sistema, Rodrigo considera que é preciso expandir a malha metroviária. “É necessário realizar uma extensão dessa condução para regiões como Sobradinho e Asa Norte. Conheço muitas pessoas que passam por dificuldades com veículos nessas cidades”, relata.

Entre Brasília e Águas Claras, há três estações em fase de construção: 106 e 110 Sul e Estrada Parque — prevista para ser inaugurada em dezembro. As duas primeiras entrarão em atividade até o fim do primeiro trimestre de 2020. Com o fim dos trabalhos, o serviço deve atender mais 15 mil passageiros por dia. A criação de um terminal no início da Asa Norte, dois em Ceilândia e dois em Samambaia faz parte de projetos da Metrô/DF. No entanto, não há data para que eles saiam do papel.

Modernização

No início de 2015, a Secretaria de Mobilidade (Semob) previu a abertura de licitação para estender o alcance do metrô até o fim do Eixo Rodoviário Norte. Os recursos para as obras sairiam do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Mobilidade. Contudo, o certame não aconteceu. No ano passado, o Ministério das Cidades liberou R$ 300 milhões para as obras em Ceilândia, Samambaia e na Asa Norte, além da modernização dos sistemas de sinalização e elétrico. A concorrência não chegou a ser aberta, e os recursos acabaram retidos devido a contingenciamentos no governo federal.

Professor do curso de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB), José Matsuo Shimoishi avalia que, se bem organizado, fiscalizado e planejado, o modelo brasiliense tem chance de dar certo. “No início, havia uma certa dúvida sobre a demanda ser ou não suficiente. Mas a criação de Águas Claras justificou isso. Só que o grande problema do sistema ainda é a falta de manutenção, e o governo não tem dinheiro para investir”, observa José. (JE e TC*)

* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart