Correio Braziliense, n. 20655, 11/12/2019. Política, p. 4

Lava-jato investiga Lulinha
Claúdia Dianni


Em nova fase, a Lava-Jato investiga repasses do grupo Oi/Telemar para empresas do grupo Gamecorp/Gol de Fábio Luís Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula, Fernando Bittar, Kalil Bittar e Jonas Suassuna. Ontem, cerca de 200 policiais federais de Curitiba e 15 auditores da Receita Federal cumpriram 47 mandados de busca e apreensão em São Paulo, no Rio, na Bahia e no DF. Os mandados foram expedidos pela 13ª Vara Federal em Curitiba, no âmbito da 69ª fase da força-tarefa, denominada Mapa da Mina.

De acordo com a PF, o nome da operação tem relação com o nome de um arquivo eletrônico, de apresentação financeira do grupo investigado, apreendido na 24ª fase da força-tarefa, que indicaria como “mapa da mina” as fontes de recursos advindas da companhia telefônica.

A PF de Curitiba informou que, conforme apurado até o momento, os repasses chegam a R$ 193 milhões e foram feitos entre 2005 e 2016. Segundo nota da Lava-Jato, os pagamentos não teriam justificativa econômica e teriam sido efetuados ao mesmo tempo em que o grupo Oi/Telemar teria sido beneficiado por atos praticados pelo governo federal, na época da gestão de Lula, como o Decreto nº 6.654/2008, que permitiu a operação de aquisição da Brasil Telecom pelo grupo Oi/Telemar.

Segundo a força-tarefa, as investigações apontam que as empresas do grupo não possuíam mão de obra e ativos compatíveis com a efetiva prestação dos serviços para os quais foram contratadas pela Oi/Telemar. O procurador Roberson Henrique Pozzobon disse, ontem, que “a maior parte do dinheiro usada na compra dos sítios Santa Bárbara e Santa Denise, em Atibaia, pode ter vindo da Oi/Telecom”.

A Lava-Jato divulgou o conteúdo de parte do material já apreendido, que inclui e-mail do diretor de Publicidade da Gamecorp para Fábio, Bittar e Suassuna, no qual há uma ressalva de que teriam sido “expurgados os números da Brasil Telecom (grupo Oi) que por ser uma verba política poderia distorcer os resultados” (de 12 meses). Segundo a nota da força-tarefa, também há indícios de irregularidade com no relacionamento entre o grupo Gamecorp/Gol com a Vivo/Telefônica, devido a uma movimentação de cerca de R$ 40 milhões entre a Movile Internet Móvel e a Editora Gol.

“Atuação parcial”

Em nota, a defesa de Lula afirma que as referências feitas pela força-tarefa ao nome do ex-presidente “refletem a atuação parcial de seus membros”. Frisou, ainda, que o tema já foi objeto de investigação realizada pela PF de São Paulo, em 2012, e pelo MPF de Brasília, em 2010, e confirmado em 2012 e, em ambos os casos, arquivado.

Também por nota, a Oi informou que “atua de forma transparente e tem prestado todas as informações e esclarecimentos que vêm sendo solicitados pelas autoridades, assegurando total e plena colaboração com as autoridades competentes”.  Ontem, o presidente da empresa, Eurico Teles, anunciou que deixará o cargo em janeiro. Já a Vivo informou que “está fornecendo todas as informações solicitadas e continuará contribuindo com as autoridades” e que “reitera seu compromisso com elevados padrões éticos de conduta em toda sua gestão e procedimentos”.

A defesa de Fernando Bittar informou que entregou ao MPF, há mais de dois anos, todos os documentos comprobatórios de prestação de serviço de suas empresas. O Correio tentou contato com a defesa de Kalil Bittar e Jonas Suassuna, mas não obteve retorno.