Correio Braziliense, n.20573, 20/09/2019. Brasil. p.5

Ensino a distância tem mais vagas que presencial

Catarina Loiola


O ensino superior na modalidade de educação a distância (EaD) oferece, pela primeira vez, mais vagas do que o ensino presencial, segundo dados do Censo da Educação Superior 2018, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O levantamento mostra que, ao todo, foram oferecidas 13,5 milhões vagas, no ano passado, para educação superior no Brasil — 7,1 milhões para cursos a distância e 6,4 milhões para graduações presenciais.

Para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, a expansão do ensino a distância é uma tendência mundial. “Isso só tende a se consolidar”, afirmou. Apesar disso, os cursos presenciais ainda tiveram mais alunos novos matriculados em 2018. Houve 2 milhões de matrículas na modalidade presencial e 1,3 milhão em cursos EaD. A educação tradicional também lidera em número de cursos e de alunos que concluem a formação.

A professora Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o aumento de vagas na modalidade a distância é reflexo de mudanças sociais e tecnológicas. “Com o avanço da tecnologia, é natural que haja essa expansão. Mas, são precisos a tutoria adequada e a definição de padrões de qualidade”, alerta. “É necessário acompanhamento permanente, conexão com os alunos e comunidades virtuais que funcionem bem. O ideal seria a educação semipresencial, pois seria possível avaliar o progresso do aluno e continuar sendo flexível.” O curso a distância mais procurado, tanto em universidades privadas quanto públicas, é o de pedagogia.

O censo mostrou ainda que a oferta de vagas de ensino superior é maior nas instituições privadas — cerca de 12 milhões, contra 835 mil nas públicas. De acordo com Carlos Moreno, da Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed) do Inep, existem 2,5 mil universidades e faculdades privadas, o que representa 75% da rede.

Em relação à modalidade EaD, o setor privado também prevalece, com 7 milhões de vagas. Já o setor público detém apenas 113,1 mil. Segundo Cláudia Costin, as faculdades privadas têm maior oferta porque são voltadas para o adulto que trabalha — e que prefere administrar a rotina e aproveitar o tempo em casa. Conforme os dados do censo, apenas cinco instituições particulares concentram mais de 50% dos alunos que cursam EaD.

A vendedora Renata Martins, 25, estuda marketing digital a distância no Centro Universitário Iesb. Ela conta que escolheu a modalidade devido à facilidade de poder montar o próprio horário e à mensalidade mais barata. “A qualidade de ensino é equivalente à do curso presencial. E ainda posso estudar em casa, sem atrapalhar a rotina de trabalho”, diz.

A estudante Yasmin Reis, 20 escolheu cursar administração EaD na Faculdade Anhanguera como segunda graduação — ela também faz educação física na Universidade de Brasília (UnB). Yasmin afirma que o ensino a distância é uma boa opção para quem deseja flexibilidade e comodidade, mas não considera a qualidade melhor que a do presencial. “Durante as videoaulas surgem questionamentos e dificuldades. Infelizmente, não tem ninguém para ajudar de imediato, como em uma sala de aula”, relata. Além disso, para Yasmin, existe um “deficit de conhecimento no que diz respeito à prática”. “Recomendo se a pessoa não tiver outra forma de estudar, mas não como primeira opção”.

* Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo

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Estatísticas da educação superior por modalidade de ensino — Brasil 2018

A distância    Presencial

Cursos    3.177    34.785

Vagas    7.170.567    6.358.534

Ingressantes    1.373.321    2.072.614

Matrículas    2.056.511    6.394.244

Concluintes    273.873    990.415

Fonte: Censo da Educação Superior 2018