Correio Braziliense, n. 20633, 19/11/2019. Brasil, p. 5

Desmatamento cresce 29,5%, o maior em onze anos

Catarina Loiola


O desmatamento da Amazônia alcançou 9.762 km² entre 1º de agosto do ano passado e 31 de julho deste ano, a maior taxa dos últimos 11 anos, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados ontem. Trata-se de um aumento de 29,5%, na comparação com os 12 meses anteriores, quando o corte raso da floresta atingiu 7.536 km². De acordo com o Inpe, além de ser a taxa mais alta desde 2008,  foi o maior aumento de um ano para o outro nos últimos 22 anos.   Segundo Darcton Policarpo Damião, diretor interino do Inpe, a tendência de aumento vem sendo registrada desde 2012, com aumento de 11,4% ao ano na taxa média. No entanto, o desmatamento observado no último ano foi de pelo menos 1.500 km² acima da taxa média.

 

As informações são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), o sistema do Inpe que fornece a taxa oficial anual de desmatamento na Amazônia. Os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, apresentaram os números em coletiva na sede do Inpe, em São Paulo.

Segundo Salles, o governo federal vai discutir medidas de redução do desmatamento com os governadores da Amazônia Legal. (Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima e parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão).

Questionado por jornalistas, o ministro negou que haja conexão entre o aumento do desmatamento e o discurso do presidente Jair Bolsonaro em defesa da exploração da mineração em terras indígenas ou às críticas do presidente aos trabalhos do Ibama de fiscalização na região, que o chefe do Executivo chama de “indústria da multa”. Para Salles, explicam o aumento do desmate “motivos conhecidos”, como atividades ilegais de garimpo, extração de madeira e uso do solo, que, segundo ele, são atividades da floresta que acontecem há muitos anos.

Orçamento

Ao ser questionado novamente sobre as mensagens do presidente, Salles culpou governos anteriores e se retirou da coletiva. “Grande parte do problema que temos de fiscalização vem de deficiências orçamentárias do quadro de pessoal, que são anteriores à nossa gestão, então, não tem nada a ver com o que se está colocando”, disse. “Ao longo do ano, o que se fez foi combater atividade criminosa, autuar, inclusive, com os mesmos instrumentos que se usava antes. Não houve nenhuma determinação em contrário. Mas tivemos, e os estados também, problemas de quadro de pessoal, orçamento, apoio logístico, que foram supridos em grande medida pela GLO (Garantia da Lei e da Ordem). “

O ministro da Ciência e Tecnologia afirmou que estuda criar um programa, em conjunto com o Exército, para levar mais cientistas para o bioma. De acordo com ele, a presença de mais pesquisadores na Amazônia possibilitará a redução do desmate.

No início do ano, Salles e Bolsonaro contestaram os números sobre o desmatamento da Amazônia apresentados pelo Inpe, o que acabou culminando na exoneração do então presidente do Inpe, Ricardo Galvão. O Deter, ferramenta que fornece dados em tempo real, havia indicado alta de quase 50% no desmatamento na comparação com os 12 meses anteriores. Na época, os alertas mostraram perda de 6.840 km² de floresta ante 4.571 km² entre agosto de 2017 e julho de 2018.

De acordo com Carlos Francisco Rossetti, professor e pesquisador de economia ambiental da Universidade de Brasília, o desmate na Amazônia ocorre principalmente pelo viés econômico. “As frentes de agropecuária, que são as grandes frentes comerciais, seja da soja, seja do boi, é um motivo suficiente dentro do modelo econômico patrocinado pelo sistema político, que deflagra incentivo ao desmatamento e, consequentemente, a abertura dessas áreas naturais para o agronegócio”, afirma.

* Estagiária sob supervisão de Cláudia Dianni