Correio Braziliense, n. 20658, 14/12/2019. Política, p. 5

Bolsonaro insiste em Camargo
Ingrid Soares


O presidente Jair Bolsonaro afirmou, ontem, que vai insistir para ter o jornalista Sérgio Camargo de volta à presidência da Fundação Palmares. Por meio das redes sociais, ele ressaltou que a suspensão de nomeação ocorreu unicamente para cumprir determinação da Justiça. "O afastamento de Sérgio Camargo da Fundação Cultural Palmares se deu por causa de decisão judicial. Caso nosso recurso seja vitorioso, eu o reconduzirei à presidência da Fundação", escreveu o chefe do Executivo.

A declaração foi postada acompanhada de um vídeo em que Camargo reafirma que o Dia da Consciência Negra tem que acabar. "Isso não é uma data do negro, é uma data de minorias empoderadas pela esquerda, que propagam ódio, ressentimento e divisão racial", disse o jornalista.

Anteriormente, Bolsonaro já havia defendido a indicação de Camargo para a pasta: "Excelente! Excelente! Não vou entrar em detalhes, porque vocês deturpam tudo isso aí. Não tem essa história de branco e negro. Nós somos iguais e ponto-final", comentou. "Não vou falar o detalhe. Gostei muito dele."

A Justiça Federal do Ceará suspendeu a nomeação de Camargo para a função, mas a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou um recurso no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), na tentativa de reverter a decisão.

Polêmicas

O jornalista foi nomeado em 27 de novembro para chefiar a Fundação Palmares, criada para defender e fomentar a cultura e as manifestações afro-brasileiras. A escolha do nome, no entanto, gerou reação negativa, porque o jornalista costumava usar as redes sociais para fazer comentários polêmicos. Ele já disse que racismo real existe nos Estados Unidos e que "a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", declarou que a escravidão foi boa, porque negros viveram em condições melhores no Brasil do que no continente africano e se posicionou contra o Dia da Consciência Negra. Para ele, o feriado devia ser extinto por decreto, porque, causa "incalculáveis perdas à economia do país" ao homenagear quem ele chamou de um "um falso herói dos negros": Zumbi dos Palmares.

Em 4 de dezembro, o juiz federal substituto Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal de Sobral (CE), suspendeu o ato afirmando que a nomeação "contraria frontalmente os motivos determinantes para a criação" da Fundação Palmares e põe a instituição "em sério risco", visto que a gestão pode entrar em "rota de colisão com os princípios constitucionais da equidade, da valorização do negro e da proteção da cultura afro-brasileira".

"Armação" sobre caso Marielle

Sem ser questionado sobre o assunto, o presidente Jair Bolsonaro voltou a tratar de investigações sobre o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (PSol-RJ). "No caso Marielle, outras acusações virão. Armações, vocês sabem de quem", disse o chefe do Executivo. Ele não especificou quem seria o autor das "armações". "Mas a gente tem um compromisso: mudar o destino do Brasil", emendou. A declaração foi feita
a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. Ele comentava sobre o governo estar apresentando bons resultados, "apesar de grande parte da imprensa, de gente do mal, pessoas que querem voltar ao que era antes". Bolsonaro já atribuiu ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), tentativa de vinculá-lo ao caso Marielle. Em evento para lançamento do Aliança Pelo Brasil, partido que quer criar, no fim de novembro, o presidente afirmou que "(Witzel) tenta destruir quem está do meu lado, usando a Polícia Civil do Rio".