O Estado de S. Paulo, n. 46138, 12/02/2020. Metrópole, p. A15

Em Osasco, tetos perdidos e medo
Felipe Resk


 

Desde que o temporal provocou uma série de deslizamentos na cidade, a catadora de material reciclável Bruna Ribeiro, de 23 anos, divide um colchão com o filho Carlos Eduardo, de 4, no piso de um teatro em Osasco, na Grande São Paulo. “Não é igual a ficar em casa, mas pelo menos aqui a gente está seguro.”

Moradores do Morro do Socó, em área considerada de risco, Bruna, o filho e o marido Antônio Carlos Alves, de 26 anos, fazem parte das 53 famílias que, até a tarde de ontem, tiveram de deixar suas casas. Eles receberam abrigo no CEU Bonança, onde o teatro virou dormitório improvisado para mulheres e crianças. Os homens ficam em outra sala do espaço.

“A situação não está nada bem... Está muito precário. Fico pensando na casa abandonada e nas outras famílias”, diz Alves, que havia reconstruído o barraco na semana passada, segundo conta. Recentemente, uma chuva forte derrubara uma árvore sobre a casa. “Quando chove, não consigo dormir, com medo”, afirma Bruna.

Há 20 anos no Portal D’Oeste, região atingida pela chuva, a ambulante Izilda Salgado, de 65 anos, se vê desabrigada pela primeira vez. “Nunca passou pela minha cabeça estar em uma situação dessas”, diz a idosa que, por causa das varizes, tem dificuldade de locomoção. “Fui para a casa do meu filho em Itapevi, mas não é o ideal. Gosto do meu cantinho.”

Vizinho, o outro filho Alexandre Salgado, de 43 anos, também teve de sair. “Ontem (anteontem), dormi dentro do carro. As casas estão todas penduradas”, afirma. Após fazer cadastro na prefeitura, ele diz que vai continuar na área de risco. “Onde vou encontrar um lugar com R$ 300 do auxílio-aluguel?”

“Dormi com medo de tudo cair na minha cabeça”, relata Lucas Santana, de 23 anos, que ignorou o isolamento da Defesa Civil e passou a madrugada em casa. “Não estava sabendo do abrigo. Não tinha outro lugar para ir.”