Correio Braziliense, n. 20659, 15/12/2019. Política, p. 2

Desafio é aprovação do orçamento
Alessandra Azevedo


Esta semana, marca o fim de um ano intenso no Legislativo, com avanço na agenda econômica, apesar de dezenas de discussões em plenário, brigas por protagonismo e racha de partidos. A principal pendência é a votação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2020, que traz a previsão de gastos e receitas do governo no próximo ano. O Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), vai pautar a matéria em sessão conjunta do Congresso, na tarde de terça-feira.

Embora o início oficial do recesso parlamentar seja em 23 de dezembro, ele começa, tradicionalmente, logo depois da aprovação do Orçamento. Por isso, a Câmara deve se reunir na terça de manhã para concluir pendências e limpar a pauta antes da sessão conjunta. Os deputados devem analisar os destaques ao projeto de lei nº 3.261/2019, do saneamento básico, que facilita a privatização de estatais do setor. O plenário aprovou o texto-base na última quinta-feira, mas precisa avaliar as sugestões de mudança feitas pelos deputados.

No Senado, a próxima semana deve ser mais parada, com foco na sessão do Orçamento. Há, no entanto, uma lista extensa de assuntos que foram deixados para o ano que vem. A emenda constitucional 105, que autoriza o repasse direto de recursos parlamentares a estados, municípios e Distrito Federal, foi promulgada na semana passada, mas os senadores ainda não terminaram de discuti-la.

Em acordo com Alcolumbre, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) se comprometeu a enviar um projeto complementar, em fevereiro, para deixar claro que a fiscalização das transferências será feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), não por órgãos locais. O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), ressaltou a importância da segunda medida. “Do jeito que está o projeto, ele tem, sim, a condição de ser um cheque em branco”, disse, na quarta-feira.

Garantir que condenados em segunda instância possam ser presos é outra preocupação de boa parte dos parlamentares. O tema deve avançar nas primeiras semanas de 2020, mas, antes, é preciso decidir qual das duas versões será priorizada: a PEC 199/2019, da Câmara, ou o projeto de lei 166/2018, do Senado. As duas propostas têm tramitado ao mesmo tempo.

Alcolumbre afirmou que não quer pautar o PL “até construir um acordo com a Câmara, no ano que vem”. A ideia é elaborar “um texto de conciliação”, explicou. A decisão foi tomada em acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após reunião com lideranças partidárias.

O posicionamento de Alcolumbre será questionado no início do ano. A presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), entende que suspender o andamento de um projeto do Senado para priorizar um da Câmara é um desrespeito à independência das Casas. “Na primeira semana de fevereiro, estaremos aqui, com todos os argumentos”, avisou.

A dinâmica lembra o que tem acontecido com a reforma tributária. Durante meses, duas propostas sobre o tema correram paralelamente. Por fim, os líderes partidários e presidentes das Casas resolveram criar uma comissão mista, de deputados e senadores, para facilitar a discussão. A mudança na forma de cobrança de tributos deve ser um tema central nos debates em 2020, mesmo que o Ministério da Economia não mande a prometida parcela de contribuição sobre o assunto.

Economia

O chamado “pacote Guedes”, composto pelas três propostas de emenda à Constituição (PECs) enviada pelo Ministério da Economia em novembro, que altera regras fiscais e orçamentárias, também só deve avançar a partir de 2020. Todos os projetos estão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), primeira etapa da tramitação, que deve durar meses.

A PEC emergencial, que cria instrumentos para conter os gastos públicos, começou a andar na semana passada, quando o relator, Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), leu o parecer na CCJ. O substitutivo à versão do governo ainda precisa ser votado pelo colegiado. Depois, como ocorre com qualquer PEC, deve passar por dois turnos no plenário, para, só então, chegar à Câmara.

Principais componentes das receitas e despesas

Receitas primárias                        R$ (em trilhões)

Contribuições à Previdência Social          438,4

Demais receitas primárias                        1.206,1

Total                                                          1.644,5

 

Despesas primárias                 R$ (em trilhões)

Benefícios da Previdência                    682,7

Pessoal e encargos                              337,9

Discricionárias                                        89,3

Transferências intragovernamentais     281,7

Outras obrigatórias                                377,1

Total                                                   1.768,6

 

Receita financeira           R$ (em trilhões)

Refinanciamento da dívida         1.004,6

Demais                                       1,038,0

Total                                           2.062,7

 

Despesas financeiras     R$ (em trilhões)

Refinanciamento da dívida         1.004,6

Juros e amortização da dívida    648,8

Demais                                        273,3

Total                                            1.927,7

Fonte: Ministério da Economia