Correio Braziliense, n. 20660, 16/12/2019. Cidades, p. 17

Geração de emprego exige novas políticas
Jéssica Eufrásio
Thais Umbelino


Na esteira do país, o Distrito Federal enfrentou transformações no mercado de trabalho de 2015 para cá (leia Em alta). O horizonte de desemprego no qual o Brasil mergulhou nos últimos anos tornou-se desafiador para os governos. Com a lenta recuperação da economia, a expectativa é de que, em 2020, esse panorama apresente leve variação. De olho nisso, o Executivo local prevê ações para intensificar a contratação de mais profissionais, mas especialistas acreditam que os efeitos devem aparecer só do segundo semestre em diante.

As taxas médias de desocupação começaram a subir a partir de 2015, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e afetaram todas as unidades federativas. Os dados mais recentes referentes ao DF mostram que há 221 mil pessoas desempregadas. Uma delas é Dilma Brito dos Santos, 49 anos. Com experiências como auxiliar de cozinha, atendente de balcão e diarista, a dona de casa está há mais de dois anos sem trabalho. “Entreguei currículo em todos os cantos de Brasília. No Paranoá, onde moro, não há um lugar para onde eu não tenha enviado”, lamenta.

Para conseguir sustentar a casa e os filhos, que também estão fora do mercado, Dilma se vira com bicos. Mas nem sempre é fácil consegui-los. “São três filhos e uma neta de 3 anos. Tem vezes em que fico na dúvida se pago o aluguel ou se comemos. As contas de luz e água estão atrasadas em mais de R$ 300. Para sustentar a casa, usamos o dinheiro da pensão que uma das minhas filhas recebe do pai falecido, mas a quantia não atende às nossas necessidades. Uma das opções para ganhar um extra é vender o sabão que faço, mas isso não cobre todos os gastos”, desabafa.

Insegurança

Dilma faz parte de um dos grupos mais impactados pelo desemprego na capital federal: as mulheres. Na série histórica, que começou em 1992, elas e os negros são os mais prejudicados, segundo dados da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Gerente de pesquisas socioeconômicas na empresa, Jusçanio Umberlino afirma que mudanças nessa realidade têm ocorrido de forma lenta.

Em um campo mais amplo, fatores que geravam indecisão por parte da iniciativa privada estão “arrefecendo”, segundo Jusçanio. “Temos variáveis que repercutem sobre o nível de segurança dos investidores e empresários, como a Previdência, a reforma tributária na agenda; e a reforma administrativa.” Apesar disso, o pesquisador não acredita em um desenvolvimento acentuado no primeiro semestre de 2020 e lembra que o mercado de trabalho responde mais lentamente no período em que a economia se encontra em crescimento.

Seletividade

Por grupo etário, os jovens de 16 a 24 anos representam a parcela mais afetada pelo desemprego. As últimas taxas, publicadas em agosto pela Codeplan, revelam que eles correspondem a 42,3% dos desocupados. Ainda segundo Jusçanio Umberlino, o cenário de crise torna o mercado mais seletivo, principalmente para pessoas com pouca qualificação ou experiência profissional. A precarização do trabalho é uma das consequências: “As pessoas se propõem a ganhar menos. (...) Quando você está em carência de renda, a necessidade pelo emprego é tão grande que você não se oferece à condição de ficar inativo”, analisa.

Desempregado há um ano e seis meses, Wemerson Cláudio da Silva, 24, acumula experiência em áreas como construção civil, agricultura e administração. Pai de um menino de 3 anos, ele deixou o Tocantins em 2014 para procurar emprego em Brasília e afirma ter medo de voltar e não conseguir emprego no estado onde nasceu. “Tenho soltado meus currículos pela internet e levado às empresas. Não tenho um cargo específico em mente, porque quem escolhe muito fica sem nada.”

Em alta

Evolução das taxas de desemprego no país e no DF nos últimos oito anos:

Ano*     Distrito Federal                Brasil

2012          8,62%                        7,35%

2013          9,02%                        7,12%

2014          8,95%                        6,82%

2015          10,1%                         8,5%

2016           12%                          11,5%

2017          13,17%                     12,72%

2018          12,72%                     12,15%

2019**       13,66%                      12,16%

Fonte: IBGE

*O cálculo dos índices de 2010 e 2011 ocorreram com uso de metodologia diferente. Por isso, não podem ser usados para efeito de comparação

**Dados de janeiro a setembro