O Estado de S. Paulo, n. 46134, 08/02/2020. Economia p. B1

Guedes chama servidor de parasita e é criticado até por aliados do governo
Denise Luna
Fernanda Nunes
Idiana Tomazelli
Gregory Prudenciano


 

Em evento ontem no Rio, ao defender a aprovação de uma reforma administrativa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou os servidores públicos a "parasitas" que estariam matando "o hospedeiro". A frase provocou reação de entidades do setor e também de políticos que apoiam o governo, o que levou o ministério a divulgar uma nota para dizer que a declaração foi "retirada de contexto".

"O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo. O cara (servidor) virou um parasita e o dinheiro não está chegando no povo", disse Guedes, pela manhã, em evento organizado pela FGV.

Ele disse que a aprovação de uma reforma administrativa é necessária para fazer com que mais recursos possam ser direcionados a áreas essenciais. "80% da população brasileira é a favor, inclusive, de demissão do funcionário público, estão muito na frente da gente."

Prometido para ser apresentado nas próximas semanas, o projeto de reforma já enfrentava resistência no Congresso. Entre as propostas em estudo pela equipe econômica, estão a redução no número de carreiras e também do salário inicial dos servidores, além de mudanças nas regras de estabilidade.

Em reação, o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, disse que o sindicato estuda recorrer à Justiça contra o "assédio institucional". A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) também falou em assédio institucional. "Se partilhássemos da descompostura do ministro, poderíamos compará-lo a um serviçal do mercado, que promove a falência do Estado em detrimento do povo brasileiro", disse a entidade em nota.

Entre congressistas, a declaração também gerou críticas. "Há bons e maus em todo lugar, até mesmo na equipe do Guedes. Ou ele acha que está tudo indo muito bem, obrigado?", escreveu o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) no Twitter. Para o senador Major Olimpio (PSL-SP), o ministro "quer matar a vaca para acabar com o carrapato".

Diante da repercussão, o Ministério da Economia divulgou nota afirmando que o ministro "reconhece a qualidade do servidor público". No comunicado oficial, Guedes se justifica dizendo ainda que citava governos com despesas acima do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para gastos com pessoal. "O ministro lamenta profundamente que sua fala tenha sido retirada de contexto pela imprensa, desviando o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão", diz o texto./ Denise Luna, Fernanda Nunes, Idiana Tomazelli e Gregory Prudenciano