Correio Braziliense, n. 20664, 20/12/2019. Brasil, p. 6

João de Deus é condenado a 19 anos
Maria Eduarda Cardim


Saiu ontem a primeira sentença pelas denúncias de abuso sexual praticado pelo médium João Teixeira de Faria, de Abadiânia, conforme o Correio antecipou no domingo. João de Deus foi condenado a 19 anos e quatro meses de prisão em regime fechado pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO). A sentença, com base na primeira denúncia apresentada pelo Ministério Público de Goiás, em 28 de dezembro do ano passado, por crimes sexuais contra quatro mulheres, foi proferida pela juíza Rosângela Rodrigues, da comarca de Abadiânia. O processo está em segredo de Justiça.

Em novembro, João de Deus foi condenado a quatro anos de prisão em regime aberto pela posse ilegal de armas de fogo. No processo, cuja setença saiu ontem, seis mulheres que relataram abusos prescritos pela Justiça foram incluídas  como testemunhas, além de três familiares. Esta denúncia acusa João de Deus de violação sexual mediante fraude contra duas mulheres e estupro de vulnerável contra outras duas.  Os crimes sexuais apresentados na denúncia ocorreram dentro e fora da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, entre abril e outubro de 2018. O promotor de Justiça Luciano Miranda, coordenador da força-tarefa criada no ano passado, acredita que a condenação do réu dá esperança a cada uma das vítimas.

“A condenação demonstra que a confiança depositada pelas vítimas no Ministério Público e no Poder Judiciário não foi em vão. O Ministério Público do Estado de Goiás continua trabalhando na instrução das ações penais em curso para o oferecimento de novas denúncias, buscando justiça com relação a todas as vítimas”, disse o promotor.

Ao todo, o MP-GO apresentou 11 denúncias sobre crimes sexuais contra vulneráveis cometidos pelo médium. O MP-GO esperava sentença ainda para este ano, para a segunda denúncia apresentada, que só será proferida em 2020 por causa do recesso forense, que começa hoje.

Defesa

O advogado de João de Deus, Anderson Van Gualberto de Mendonça, afirmou, por meio de nota, que a defesa ainda não foi formalmente intimada, mas adianta que vai recorrer. O advogado alegou que “a sentença desconsiderou que as vítimas deixaram de representar junto ao Poder Público pela deflagração da ação penal dentro do prazo decadencial de seis meses, requisito legal e exigível como condição de procedibilidade da ação penal”.

Além disso, Van Gualberto ressaltou que a defesa seguirá pleiteando a prisão em regime domiciliar baseada no quadro de saúde descrito como “crítico” na nota. “O estado de saúde de João Teixeira é precário, sobretudo porque está com o quadro grave de hemorragia intestinal de causas desconhecidas, picos de pressão arterial, perda significativa de massa muscular (40kg em um ano) e dificuldade de mobilidade”, afirma no documento.