Correio Braziliense, n. 20710, 04/02/2020. Política, p. 3

Em São Paulo, Bolsonaro fala de educação

Augusto Fernandes
Rosana Hessel


 

O presidente Jair Bolsonaro decidiu ficar distante de Brasília enquanto o Congresso iniciava o ano legislativo com pretensão de apreciar projetos vitais para o governo. Bolsonaro inaugurou a pedra fundamental do Colégio Militar de São Paulo, acompanhado por Abraham Weintraub (Educação); Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Regina Duarte (Cultura). Também fizeram parte da comitiva presidencial o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro.

A inauguração da pedra fundamental foi o pretexto para Bolsonaro defender as escolas militares e atacar governadores do Nordeste. “Oito dos nove governadores do Nordeste não aceitaram a escola cívico-militar. Para eles, a educação está indo muito bem formando militantes e desinformando, lamentavelmente”, disse. “A questão político-partidária não pode estar à frente das necessidades do país”, acrescentou. O único estado nordestino que aderiu ao projeto de construir escolas militares foi o Ceará, governado por Camilo Santana (PT). O governador da Bahia, Rui Costa (PT), rebateu. Segundo ele, o governo federal não ofereceu construir novas escolas nem recursos. “Só ofereceu a metodologia. É só para botar o carimbo dele (de Bolsonaro).”

O presidente defendeu mais uma vez o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Disse que o ministro tem "trabalho enorme pela frente" para tirar o Brasil da posição vexatória no Programa Internacional de Avaliação de Aluno (Pisa), o ranking da educação mundial. A afirmação ocorre dias após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, considerar a gestão de Weintraub “um desastre” e afirmar que o ministro “atrapalha o Brasil” e se utiliza de um discurso de ódio. Para Bolsonaro, em vez de criticar o fato de que o Brasil ocupa os últimos lugares no Pisa, o importante é “impor uma nova dinâmica” para a educação. De acordo com os dados do ranking do ano passado, o país está na 67ª posição em ciências, 71º em matemática e 58º em leitura. Ao todo, 79 países são avaliados.

Bolsonaro disse ainda que pediu para não ver dados sobre falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Ele (o ministro Abraham Weintraub) queria apresentar para mim os dados. Não quis, (estava) com a cabeça cheia. Hoje saturei.” Ao retornar para Brasília, em frente ao Palácio do Alvorada, o presidente minimizou as falhas relatadas por milhares de estudantes sobre a prova. “Quase em todos os ano têm problema. Representa menos de 'zero vírgula alguma coisa' o problema”, disse. O MEC divulgou ter identificado erro na correção de 5.974 provas, de 3,9 milhões participantes da última edição da prova. Mais de 175 mil pessoas, no entanto, questionaram as notas que obtiveram, mas não receberam nenhum retorno da pasta.