O Estado de S. Paulo, n. 46139, 13/02/2020. Política, p. A8

Bolsonaro cobra Osmar Terra por contrato suspeito
Vera Rosa
Patrik Camporez 


 

O presidente Jair Bolsonaro cobrou ontem explicações do ministro da Cidadania, Osmar Terra, sobre contrato de R$ 7 milhões firmado por sua pasta com uma empresa suspeita de ser usada como laranja para desviar recursos públicos. O Estado revelou que a pasta ignorou alertas de fraude antes de aceitar a contratação da Business Technology (B2T), que virou alvo da Polícia Federal na Operação Gaveteiro. Após a cobrança do presidente, o ministro informou ter encaminhado pedido de apuração à PF, o que a instituição nega. O Ministério Público que atua no Tribunal de Contas da União (TCU) também requisitou investigação da Corte.

 Após as reportagens, o governo iniciou uma articulação para trocar Terra pelo ministro Onyx Lorenzoni. Pelo desenho traçado no Palácio do Planalto, o titular da Casa Civil vai assumir a Cidadania. Deputado federal pelo MDB, Terra pode reassumir o mandato na Câmara ou até assumir uma embaixada.

O presidente ficou irritado porque o ministério comandado por Terra foi alertado sobre a possibilidade de fraude por duas empresas e pela Controladoria Geral da União (CGU) e, mesmo assim, contratou a B2T. A PF suspeita que se trata de uma empresa de fachada que teria sido usada para desviar R$ 50 milhões dos cofres públicos entre 2016 e 2018, durante a gestão do presidente Michel Temer.

A empresa tinha contrato com o extinto Ministério do Trabalho, comandado na época pelo PTB, para prestar serviços na área de tecnologia.

O Estado apurou que a PF deve incluir o contrato com a pasta da Cidadania em uma nova fase da Operação Gaveteiro. Na primeira etapa, deflagrada na semana passada, o foco foi o contrato firmado pelo Ministério do Trabalho. Os sócios da B2T estão entre os investigados.

Procurado desde a terça-feira da semana passada, Terra se manifestou pela primeira vez sobre o caso ontem, somente após a cobrança de Bolsonaro. Em nota, ele afirmou ter afastado todos os responsáveis pela contratação e pedido um pente-fino em todos os contratos da área de tecnologia. Na montagem do governo, Terra foi indicado para a Cidadania pelo próprio Onyx, então todo-poderoso titular da Casa Civil. Os dois são gaúchos.

O Estado também tenta contato com a B2T desde a última semana, mas ninguém da empresa foi encontrado para falar a respeito das suspeitas da PF e do contrato com a pasta. No endereço informado pela firma, ela não funciona.

TCU. O subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público de Contas, solicitou ontem que o TCU investigue todos os contratos de tecnologia firmados na gestão Terra.

Além do negócio da B2T, o ministério também fechou, num intervalo de seis meses, mais de R$ 25 milhões em contratos na área de TI por meio da modalidade de adesão à ata, sem necessidade de abrir licitação.   

Pente-fino

 “Todos os funcionários envolvidos na contratação da empresa foram afastados num processo de aperfeiçoamento dos controles. O Ministério da Cidadania está fazendo um pente-fino em todos os contratos da área.”

 Ministério da Cidadania

 Em Nota