O Estado de S. Paulo, n. 46139, 13/02/2020, Economia, p. B3

Dólar fecha em novo recorde, R$ 4,35
Altamiro Silva Junior
Douglas Gavras
Luciana Xavier
Niviane Magalhães
Eduardo Rodrigues
Amanda Pupo


 

O dólar fechou ontem em alta de 0,57% e cotado a R$ 4,3510, seu maior valor nominal, sem considerar a inflação. O dia foi de fortalecimento da moeda americana também em relação a outras divisas, como o euro. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou o último pregão em alta de 1,13%, a 116.674,13 pontos.

Após o fim do pregão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que uma taxa de câmbio mais alta é “boa para todo mundo” e que o dólar mais barato estava prejudicando as exportações.

“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, em função de importações, turismo, todo mundo indo pra Disneylândia... Empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada. Peraí”, disse Guedes em um seminário em Brasília, promovido pelo Grupo Voto.

O ministro incentivou os brasileiros a viajarem mais de férias dentro do País. “Vai para a Amazônia, para Foz do Iguaçu”, afirmou. E continuou sugerindo roteiros turísticos locais:“Vá passear ali no Nordeste, cheio de praia bonita. Vai pra Cachoeiro de Itapemirim (ES), vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu.”

Ao defender o novo patamar do dólar, Guedes disse que “é melhor termos juros a 4% e câmbio a R$ 4,00, do que câmbio a R$ 1,80 e juros de 14%, nas alturas”. O ministro disse que “o câmbio não está nervoso, só mudou para R$ 4,00. “O modelo não é juro na lua e câmbio baixo, desindustrializando o Brasil”, acrescentou.

Depois das declarações, Guedes tentou minimizar. “Vamos botar todo mundo para conhecer o Brasil. Eu quis dar um exemplo, mas falam: ‘ministro diz que empregada doméstica estava indo para Disneylândia’. Não. O ministro estava dizendo que o câmbio estava tão barato que todo mundo estava indo para a Disneylândia, até as classes sociais mais baixas. Todo mundo tem que ir para Disneylândia, mas não ir três, quatro vezes ao ano, até porque o dólar a R$ 1,80, tinha gente indo três vezes ao ano.”  

Mercado. O dia foi marcado por mínimas ante o dólar não só do real, mas também de outras moedas, inclusive as fortes. O euro, por exemplo, caiu abaixo de ¤ 1,09 por dólar, atingindo os menores patamares em 21 meses.

“Ao longo de 2020, a maioria das moedas perdeu para o dólar. O investidor sente que o risco global está mais alto e corre para comprar a moeda americana, para ter mais segurança”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton. Ele diz acreditar que o dólar tenha força para ultrapassar o patamar atual e chegar a R$ 4,60.

O avanço na cotação da moeda americana também acompanha a decepção de investidores com o resultado fraco do varejo, divulgado pelo IBGE, que ficou abaixo das expectativas para vendas de Natal. O resultado abriria espaço para que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte mais os juros básicos, hoje em 4,25% ao ano.

Segundo levantamento do Estadão/Broadcast, acompanhando nove casas de câmbio, o dólar turismo chegava a ser negociado a R$ 4,55. O valor mais baixo encontrado era de R$ 4,47.

Já na Bolsa, o que tem impulsionado ganhos é a contínua melhora do humor dos investidores, com a desaceleração do alastramento do coronavírus. A queda de novos casos no país pelo segundo dia seguido garantiu a renovação de recordes históricos em Nova York e na Europa. 

O entendimento de analistas é de que, com a diminuição de casos do vírus, o impacto no crescimento econômico global pode não ser tão agudo quanto se antecipava. / Altamiro Silva Junior, Douglas Gavras, Luciana Xavier, Niviane Magalhães, Eduardo Rodrigues e Amanda Pupo

Uma festa danada

“Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, em função de importações, turismo, todo mundo indo pra Disneylândia .... Empregada doméstica indo pra Disneylândia. Peraí”

“Vá passear ali no Nordeste, cheio de praia bonita. Vai pra Cachoeiro de Itapemirim (ES), vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu.”

Paulo Guedes

Ministro da Economia