O Globo, n. 31556, 30/12/2019, País, p. 5

Em Brasília e São Paulo, PSL lidera em processos
Bernardo Mello


OPSL, que até pouco tempo abrigava o presidente Jair Bolsonaro, tem o maior número de parlamentares com processos abertos ao longo de 2019 nos conselhos de Ética da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Em Brasília, seis deputados do PSL foram alvos de representações movidas pelo próprio partido por ofenderem ex-colegas de legenda e o comando nacional. Na Alesp, oito das 21 denúncias abertas neste ano têm deputados estaduais da sigla como alvo. Em outros dez casos, parlamentares do PSL foram os autores de representações.

Em uma das denúncias na Câmara, contra o deputado Daniel Silveira (RJ), a direção do PSL argumentou que o vazamento do áudio em que o então líder do partido Delegado Waldir (GO) chamava o presidente Jair Bolsonaro de "vagabundo", entre outras palavras de baixo calão, transformou a legenda em "chacota nacional".

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) responde a três processos no Conselho de Ética, um deles por chamar a colega de partido Joice Hasselmann (SP) de "Peppa Pig", em alusão à porca do desenho animado homônimo. Joice, por sua vez, chamou a ex-aliada Carla Zambelli (SP) de "burra" durante uma sessão da CPMI das Fake News, e sugeriu que o presidente Jair Bolsonaro havia perguntado se Zambelli foi "prostituta" no passado.

— No caso do PSL, a quebra de decoro se tornou uma forma de governar. Durante a campanha eleitoral, o discurso rude e sem filtros de Bolsonaro foi avaliado como um sinal de coragem, de que seria um "outsider". Agora esses políticos são reféns de sua própria estratégia, desta forma de entender a política como confronto — analisa a socióloga Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que pesquisa o comportamento do eleitorado bolsonarista.

Para o filósofo e cientista político Renato Lessa, da PUC-Rio, a sucessão de ofensas e xingamentos que marcou as casas legislativas este ano aponta para um tipo de cultura política em que não há limites para o confronto:

— É um comportamento tóxico para o ambiente democrático, por não haver a perspectiva da contenção e da mediação.

Mas não foram apenas os parlamentares do PSL alvos de processos movidos pelo partido em 2019. O presidente da legenda, Luciano Bivar, entrou com uma representação contra o deputado federal Glauber Braga (PSOLRJ), depois que que ele se referiu, em julho, ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, como "juiz ladrão". Na ocasião, Moro esteve na Câmara para falar sobre mensagens vazadas atribuídas a ele e a procuradores da Lava-Jato.

O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-aliado do clã Bolsonaro, também protagonizou embates que descambaram para a baixaria na CPMI das Fake News. Frota sugeriu que Eduardo Bolsonaro assistia a filmes pornográficos e insinuou que o deputado Carlos Jordy (PSLRJ) havia sentado em seu colo. Jordy respondeu que Frota tinha "prótese no pênis".

Armas e Pinochet

Na Alesp, o deputado Douglas Garcia (PSL) foi acusado de quebra de decoro e foi punido com uma advertência após afirmar que tiraria "no tapa" uma transexual de dentro do mesmo banheiro feminino que sua mãe ou sua irmã usassem. Já o deputado Frederico d'Avila (PSL) foi denunciado depois de propor uma homenagem ao ditador chileno Augusto Pinochet, em novembro. O ato solene acabou cancelado.

Outro deputado estadual do partido alvo de processo no Conselho de Ética, o PSL, foi Adalberto Freitas. Ele foi acusado de incitar a violência depois de afirmar que mantinha funcionários armados em seu gabinete. A declaração ocorreu após representantes do Sindicato dos Professores da Rede Estadual (Apeoesp) irem ao gabinete da deputada Janaína Paschoal, também do PSL, que afirmou que seus funcionários foram ameaçados. O processo acabou arquivado.