Correio Braziliense, n. 20726, 20/02/2020. Política, p. 4

Primeira mulher a comandar o TST

Cláudia Dianni


 

Tomou posse, ontem, como presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), a ministra Cristina Peduzzi, primeira mulher a ocupar o cargo. Durante a cerimônia, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, aproveitou o fato para, na frente do presidente Jair Bolsonaro, fazer um discurso contra a  “cultura machista” e em defesa da igualdade de gênero.

“Na pessoa da nossa presidente, homenageio todas as mulheres que, diuturnamente, se dedicam à Justiça no Brasil e, também, na sua pessoa, cumprimento todas as trabalhadoras brasileiras, e todas as mulheres presentes nesta cerimônia. Jornalistas, magistradas, trabalhadoras da Justiça do Trabalho e advogadas”, disse Santa Cruz.

Na terça-feira, Bolsonaro foi muito criticado por fazer insinuação sexual contra a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, que produziu reportagens sobre o disparo de mensagens em massa na campanha eleitoral. “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo, a qualquer preço, contra mim”, afirmou a apoiadores na porta do Palácio da Alvorada.

Em julho do ano passado, Bolsonaro disse que o pai de Santa Cruz foi assassinado nos anos 1970 por um grupo terrorista de luta armada e não por agentes da ditadura militar, o que também gerou fortes reações da sociedade e entidades de classe.

“A luta da ministra (Cristina Peduzzi), que hoje alcança esse importante reconhecimento, continua sendo a luta de milhões de mulheres. Mulheres que ainda enfrentam uma cultura machista, que faz persistir a desigualdade de gênero em salários, processos seletivos e de progressão na carreira; que perpetuam a injustiça e, muitas vezes, o desrespeito às nossas trabalhadoras no exercício das suas funções”, discursou.

Dignidade

Depois da solenidade, Cristina Peduzzi evitou comentar a declaração de Bolsonaro sobre a jornalista, apesar de questionada pela imprensa, e falou de forma mais geral sobre discriminação contra a mulher. Para ela, a Justiça do Trabalho é eficiente em casos como assédio moral ou outro tipo de agressão. A presidente do TST defende, ainda,  que as mulheres procurem a Justiça quando o conflito não pode ser resolvido entre as partes.

Sobre a Justiça do Trabalho, Peduzzi frisou que o maior desafio é construir o conceito de trabalho digno no ambiente de evoluções tecnológicas. “As transformações tecnológicas, como a digitalização e a robótica, promovem agilidade e facilidades processuais, por um lado, mas, por outro lado, apresenta muitos desafios no mundo do trabalho”, disse. “O juiz precisa compreender a irreversibilidade no mundo do trabalho, porque isso não é só no Brasil, mas global e, nesse contexto, aplicar a lei com justiça e sabedoria.”

Mestre em direito constitucional pela UnB, ela foi procuradora da República e procuradora do Trabalho e atuou como advogada em tribunais superiores. Além disso, esteve à frente da vice-presidência do TST entre 2011 e 2013 e integrou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2013 a 2015.

Além de Bolsonaro, estavam na cerimônia os presidentes do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e da Câmara, Rodrigo Maia, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o governador do DF, Ibaneis Rocha. O Correio Braziliense foi representado pelo vice-presidente executivo, Guilherme Machado.