Correio Brazilense, n. 20721, 15/02/2020. Política. p. 3

Conduta de Eduardo será avaliada em março

Jorge Vasconcellos


 

O destino político do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) começará a ser definido na primeira semana de março, com a apresentação, no Conselho de Ética da Câmara, do parecer que pode propor a abertura de processo de cassação do mandato do parlamentar. O documento está sendo preparado pelo deputado Igor Timo (Podemos-MG), relator de duas representações protocoladas por partidos de oposição. Elas apontam que o filho do presidente Jair Bolsonaro cometeu quebra de decoro ao defender a reedição do AI-5, o ato institucional que inaugurou a fase mais sombria da ditadura militar (1964-1985).

A previsão de entrega do parecer para votação no plenário do conselho foi informada ao Correio pelo deputado mineiro, designado relator do caso em 5 de dezembro. Ele não quis adiantar mais detalhes. O parecer já deveria ter sido apresentado ao colegiado, mas, na última quarta-feira, Igor Timo pediu mais 10 dias úteis para concluir o documento. É a segunda vez que ele solicita prorrogação do prazo.

O processo se refere a uma entrevista concedida por Eduardo Bolsonaro, no fim de outubro de 2019, ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube. Em um trecho, ele falou da possibilidade de chegarem ao Brasil os protestos que tomaram as ruas de vários países da região, como Chile e Bolívia.

"Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como aconteceu na Itália. Alguma resposta vai ter de ser dada", afirmou Eduardo, na entrevista. O Ato Institucional citado pelo parlamentar, entre outras atrocidades, fechou o Congresso e extinguiu a garantia de habeas corpus em casos de crimes políticos.

As declarações tiveram ampla repercussão nas redes sociais e no mundo político. Duas representações foram protocoladas no Conselho de Ética da Câmara, uma da Rede Sustentabilidade, outra do PT, PSol e PCdoB. Por decisão do presidente do colegiado, Juscelino Filho (DEM-MA), os dois pedidos foram juntados em um único processo.

Eduardo Bolsonaro também é alvo de uma outra representação no Conselho de Ética. Nela, o PSL o acusa de ofender, em ataques nas redes sociais, a deputada Joice Hasselmann (SP), do mesmo partido. No ano passado, os dois parlamentares estavam em lados opostos na crise que dividiu a legenda entre bolsonaristas e apoiadores do presidente da legenda, o deputado Luciano Bivar (PE).