Correio Braziliense, n. 20641, 27/11/2019. Brasil, p.06

Agredida com plateia

Aissa Mac*


Enquanto a Organização das Nações Unidas e grupos ativistas estão engajados para denunciar o avanço do feminicídio pelo mundo, a violência contra a mulher continua a fazer vítimas. No Distrito Federal, uma mulher foi morta pelo próprio irmão. Em Minas Gerais, a covardia foi registrada pelas câmeras de um estabelecimento comercial.

“Minha revolta é ver que vários homens estavam ao meu redor e ninguém fez nada.” Esse é o relato da jovem de 21 anos, que não quis ser identificada, agredida no final de semana dentro de um bar no bairro União, na região Nordeste de Belo Horizonte.

Ouvida pelo Estado de Minas, a jovem contou que estava à procura de um bar para se sentar na Rua Alberto Cintra. Depois de encontrar um local, ela pediu ao garçom que providenciasse uma mesa. Foi quando os rapazes que estavam ao lado se incomodaram com o pedido dela. “Eles não queriam deixar o garçom colocar a mesa do lado deles. Não sei bem se foi porque eles estavam sem mesa ou se eles não queriam que eu me sentasse lá”, relatou a vítima de agressão.

Ela disse que então entrou no bar à procura do gerente. Enquanto conversava com ele, um rapaz se meteu na discussão. Foi quando o agressor chegou acompanhado de um outro homem. Segundo a vítima, o rapaz chegou gritando. “Falou que ia me matar. No que eu respondi, ele me empurrou”, descreveu a comerciante.

Nas imagens de circuito interno do estabelecimento comercial, é possível ver o momento em que a moça cai com a força do empurrão. “Quando eu tentei me levantar, ele e o homem de cabelo grisalho me empurraram de novo.” Ela disse que, na segunda queda, se sentiu tonta e desnorteada. Nas imagens é possível ver que novamente a vítima consegue se levantar. Exaltada, a jovem se dirige às pessoas que assistem a cena. Na sequência, ela vai até o agressor, que a atinge com um soco.

“Eu desmaiei. Quando acordei, ele já tinha fugido. Machuquei o pescoço, o rosto, os braços, a mandíbula e a cabeça. Fiquei revoltada em ver a covardia. Tinham mais de 10 homens em volta, as pessoas tentavam me segurar, mas ninguém segurava ele. Eu estava caída no chão, um agressor de um lado e o outro do outro e todo mundo olhando”, relembrou a vítima de violência, ainda abalada.

A jovem, que acompanhou a repercussão do caso nas redes sociais, disse que ficou frustrada com os comentários que leu. “As pessoas querem achar uma justificativa para um ato absurdo, pessoas que não sabem como tudo começou. Uma coisa é discutir com palavras no calor do momento, mas quando a pessoa te agride, ela perde totalmente a razão”, protestou.

Ainda no domingo, a vítima registrou um boletim de ocorrência. Segundo o pai da jovem, que também preferiu não ter o nome divulgado, nesta manhã ela realizou um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) da capital.

A agressão em Belo Horizonte aconteceu dois dias antes do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. Em Brasília, em frente ao Congresso Nacional, mais de mil cruzes foram pregadas no gramado da Esplanada dos Ministérios para lembrar as vítimas de ataques feminicidas. Em 2018, o ódio contra mulheres provocou 1.206 mortes no Brasil.

*Estagiária sob supervisão de Frederico Teixeira, do Estado de Minas