Correio Braziliense, n.20577, 24/09/2019. Política. p.3

Doações de US$ 500 milhões para florestas


O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a ONG Conservação Internacional decidiram doar US$ 500 milhões adicionais para o reflorestamento da Amazônia e de outras florestas tropicais. A informação é da Presidência francesa. O anúncio formal foi feito durante a reunião sobre a Amazônia, ontem, no âmbito da Assembleia-Geral da ONU em Nova York, com a presença de vários chefes de Estado, como o presidente da França, Emmanuel Macron; a chanceler alemã, Angela Merkel; e os líderes de Chile, Colômbia e Bolívia, com a ausência do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

A União Europeia vai disponibilizar 190 milhões de euros como parte de seus programas de cooperação e desenvolvimento, enquanto a Conservação Internacional aportará US$ 20 milhões. O objetivo é financiar projetos para a preservação da biodiversidade, o desenvolvimento de uma cadeia de valor sustentável, gestão duradoura de solos, promoção de conhecimentos tradicionais e cooperação transfronteiriça.

Macron foi irônico sobre a ausência de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que estendeu a mão a Brasília, que o acusa de interferência em assuntos internos. “Quais são os nossos riscos? Primeiro, o elefante na sala, ou melhor, o que não está aqui, o Brasil! Todo mundo me pergunta, como vamos fazer sem o Brasil? O Brasil é bem-vindo”, disse ele,na tribuna. “Precisamos de uma manobra inclusiva, respeitosa com cada um. Espero que, nos próximos meses, tenhamos condições políticas para avançar.”

Segundo Macron, outros riscos são “que digamos números, palavras, mas sem resultados”. Existem tantos fundos e programas que “o risco é dispersão, lentidão, ineficiência e que percebamos, seis meses depois, que os fundos não chegaram às populações afetadas”, ressaltou.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, destacou a necessidade urgente de conservar florestas. “Uma colaboração internacional é necessária e urgente, e existe uma vontade enorme”, disse o chefe de Estado, cujo país organizará a cúpula para a luta contra a mudança climática COP-25, em dezembro deste ano.

Programas

Três programas podem ser anunciados. O Banco Mundial planeja estabelecer um programa “Pro Green”, com Alemanha e França, para financiar projetos da terra. Já o Banco Interamericano de Desenvolvimento financiará ações nos grandes estados da Amazônia.

Além disso, a ONG americana Conservação Internacional apoiará projetos locais liderados por organizações não governamentais, comunidades indígenas e empresas privadas. No total, cerca de US$ 500 milhões serão destinados a todas as florestas tropicais, disse o Palácio do Eliseu.

Esse valor, em empréstimos e doações, será adicionado às contribuições feitas por Alemanha e Noruega, principais doadores da floresta amazônica, mas que bloquearam os pagamentos ao Brasil para protestar contra a política do governo Bolsonaro.

Dadas as críticas do Brasil, que acusa a França de ingerência na soberania em sua parte da selva na Amazônia, Paris insistiu em que “é uma iniciativa inclusiva”. “Não se trata de questionar a soberania dos Estados, mas esses programas serão lançados independentemente da posição brasileira”, afirmou Macron.

Com 60% da maior floresta tropical do mundo em seu território, o Brasil tenta convencer o mundo de que tem a situação sob controle, depois que o forte desmatamento e a propagação de incêndios florestais causaram uma crise internacional em agosto passado.

Mourão alfineta

O presidente interino, Hamilton Mourão, afirmou, ontem, que o presidente francês Emmanuel Macron “está tendo seus minutos de fama”. A resposta foi dada após o general ser questionado sobre a crítica que o chefe do Executivo francês fez em relação à ausência do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima, ontem, na véspera da abertura da Assembleia-Geral da ONU. “Eu podia me lembrar das palavras em francês, mas vou lembrar em inglês: He is getting his minutes of fame. Tá bom? Só isso”, alfinetou.

Frase

“Quais são os nossos riscos? Primeiro, o elefante na sala, ou melhor, o que não está aqui, o Brasil! Todo mundo me pergunta, como vamos fazer sem o Brasil? O Brasil é bem-vindo”

Emmanuel Macron, presidente da França