Correio Braziliense, n. 20584, 01/10/2022. Política, p. 03

As fichas de político



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um animal político como poucos na história brasileira. A tensão com os integrantes da Lava-Jato é apenas uma das batalhas travadas pelo petista ao longo da vida partidária. Ao não aceitar a “oferta” do Ministério Público para progredir de regime, ele apenas está esticando uma corda para constranger os procuradores, que, sabe-se, têm a imagem desgastada com a divulgação dos diálogos com o então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.

Ao mesmo tempo que os integrantes do Ministério Público apresentaram o pedido de progressão da pena para ganhar tempo em relação ao julgamento de suspeição de Moro e se mostrarem mais sensíveis aos percalços sofridos pelo ex-presidente, Lula tenta sustentar a narrativa de um preso político, injustamente condenado, pelo menos para os eleitores. Não deixa de ter algum sucesso, até pelo contragolpe no MP, ao recusar a progressão. “É sui generis um condenado recusar a progressão, do mesmo jeito que é raro ver tanto empenho do MP em pedir tal progressão na realidade do sistema penitenciário brasileiro”, disse ao Correio João Paulo Martinelli, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Escola de Direito do Brasil (EDB).

Há a expectativa de atores de várias cores partidárias de que, com eventual saída de Lula da prisão, ocorra uma forte movimentação política e eleitoral. Lula, entretanto, sabe que isso só ocorrerá com anulações e atrasos das condenações. Assim, na cabeça do petista, a estratégia é desgastar os procuradores e o ex-juiz da Lava-Jato ao máximo. Se aceitar a progressão do regime, perde a narrativa. Por mais pressionado que possa estar pela família a voltar para casa, a tendência é resistir e manter o discurso.

Resta saber se a juíza Carolina Lebbos vai conseguir amarrar a decisão a ponto de mandar Lula para o regime domiciliar sem que ele e os advogados de defesa consigam contra-atacar. (L.C)