Título: Alerta para nova crise do petróleo
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2005, Economia & Negócios, p. A17

Greenspan prevê maior crise em 25 anos, mas Petrobras descarta reajuste no Brasil

Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, afirmou ontem que os atuais preços do petróleo e do gás natural colocam o mercado sob uma pressão que já não se via há pelo menos uma geração. O alerta acendeu a luz amarela para uma nova crise do petróleo e uma possível escalada inflacionária, já que em 1980 o barril atingiu valores que hoje equivaleriam a US$ 90.

- Os mercados de petróleo e gás natural estão sujeitos a forte pressão devido a forte demanda e falhas na expansão da produção - disse.

Na segunda-feira, o barril do petróleo negociado em Nova York atingiu o recorde de US$ 58,28. Ontem, no entanto, a commodity recuou para US$ 56,04 nos EUA e para US$ 55,44 em Londres.

A advertência de Greenspan trouxe à tona os temores de uma escalada dos juros americanos como forma de domar a inflação, puxada pela alta do preço do combustível. Desde junho, o Fed elevou a taxa básica de juros nos EUA de 1% ao ano para os atuais 2,75%. Com juro mais alto, o fluxo de capitais nos países emergentes, como o Brasil, cairia dramaticamente.

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, o atual cenário não deixa dúvida de que o preço médio do petróleo será maior este ano do que em 2004, o que vai levar ao ''tradicional remédio'' do aumento dos juros no mercado interno.

- O mercado interpreta que o Fed vai subir os juros e, no Brasil, o BC vai ter que aumentar a Selic - garante, acrescentando que a projeção do Goldman Sachs de um barril a US$ 105 é plausível. - A demanda está tão próxima da oferta, que qualquer choque pode levar o preço a US$ 100.

Apesar do quadro negativo lá fora, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, descartou, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, aumento no preço dos combustíveis no curto prazo.

Com a tensão no front externo, a audiência de Dutra na CAE, convocada pelo senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) para discutir o relatório econômico-financeiro da Petrobras, parcerias, perspectiva de exploração de novos poços e financiamento do fundo de pensão Petros, acabou focada no debate sobre preços.

- Consideramos várias fontes de fornecimento. Por isso às vezes nossos preços não batem com o de alguns analistas - argumentou Dutra. No mercado, há estimativas de defasagem de 17% na gasolina e de 32% no diesel.

O presidente da estatal disse que a política da empresa prevê a ''aderência ao chamado preço competitivo, mas não podemos desconsiderar que a Petrobras tem mais de 90% do mercado brasileiro'', admitiu.

Com Folhapress