Correio Braziliense, n. 20588, 05/10/2019. Brasil, p. 6

Ministro lamenta falta de empenho e punição

Maria Eduarda Cardim


Dos 8.821 cursos avaliados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) em 2018, apenas 492 tiraram nota máxima. Os números foram apresentados ontem pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Ao comentar os resultados, o ministro Abraham Weintraub afirmou que o aluno que faz a prova “de qualquer maneira” impede que o governo tenha um termômetro adequado sobre a qualidade do ensino superior.

Para tentar mudar essa realidade, Weintraub destacou que o governo federal estuda ações para punir os estudantes que apresentem baixo desempenho no Enade. Para o ministro, o aluno que acerta apenas 10% das questões não deveria nem estar apto para receber o diploma.

“Não temos como punir pessoas que acertam menos de 20% da prova. A vontade seria essa. A pessoa que faz a prova e acerta 10% das questões não deveria se formar e receber o diploma”, defendeu, apesar de reconhecer que o universitário não tem coisa alguma que o estimule a prestar um bom exame.

“O aluno pode chegar lá e fazer a prova como se não houvesse amanhã. Ele não tem nenhum incentivo individual para fazê-la de forma correta. Com isso, não temos como mensurar adequadamente se aquela instituição teve um bom desempenho de fato”, lamentou o ministro.

O desempenho dos estudantes que fizeram o exame é o que define como os cursos são classificados, em um conceito de 1 a 5, sendo 5 a nota máxima. Em 2018, 462 mil alunos fizeram a prova, sendo 85% estudantes de instituições privadas.

“Me preocupo com os dados. Para ter um bom planejamento e uma boa gestão, precisamos dos instrumentos para ler o que está acontecendo”, explicou.

O Enade é obrigatório, e quem não se submete a ele fica impedido de receber o diploma, porque a legislação classifica a prova como um componente curricular obrigatório. Ainda assim, conforme salientou o ministro, não há nenhuma punição severa para quem não faz a prova.

“Atrasa uns sete meses a colação (de grau). Dá mais trabalho não fazer o exame do que fazer. É ruim para a sociedade, porque não temos um bom termômetro do ensino superior", insistiu.

Segundo o presidente do Inep, Alexandre Lopes, o estudante que faltar ao Enade precisa passar por um processo de regularização semelhante ao de um eleitor que deixa de votar. Para normalizar a situação, o aluno deve justificar a ausência ante a instituição em que estuda ou junto ao Inep. E, caso a explicação não seja aceita, tem que esperar a análise do Instituto para o caso.

Divulgação de melhores

Uma possível mudança, no sentido de estimular o universitário a levar a sério o Enade, é a divulgação dos nomes dos melhores alunos por faixa de desempenho, uma vez que é proibido divulgar a nota exata de cada participante.

"Queremos divulgar os alunos que tiveram os melhores resultados como forma de incentivo. Para que possam colocar isso no currículo e buscar uma vaga de emprego", ressaltou o presidente do Inep. A mudança pode ser estudada para inclusão no edital de 2020.

O baixo desempenho das universidades pode ser visto na classificação dos cursos que mais tiveram estudantes inscritos no Enade. É o caso de Administração e Direito que, juntos, representam 48,5% do número total de inscritos. Ao todo, os cursos levaram 227 mil alunos a fazerem a prova.

A maioria foi classificada com notas 3 e 2. No caso de Administração, 51% dos cursos tiveram conceito 3, e 22,2% tiveram nota 2. A avaliação dos cursos de Direito segue na mesma direção: 43,4% tiraram nota 3, e 33,8% ficaram com 2. Do total analisado, 3.830 cursos foram classificados como conceito 3.