Correio Braziliense, n.20558, 05/09/2019. Economia. p.9

Recurso para abater o deficit

Vera Batista 


Abater o rombo nas contas públicas e fazer a rápida reposição das verbas bloqueadas para despesas não obrigatórias, em setores estratégicos. Esses devem ser os destinos para os recursos que a União arrecadará com os leilões da área do pré-sal em novembro. A partir da aprovação da cessão onerosa pelo Congresso, na terça-feira, parte desses recursos serão destinados a estados e municípios. Para especialistas, a boa destinação desses recursos, poderá resultar em atração de investimentos e fazer a economia andar.

“A prioridade número um desse dinheiro é diminuir o deficit primário”, destaca o economista Raul Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento. Há um “desespero”, disse, em todas as esferas do poder por dinheiro. Por isso, ele tem que ser muito bem empregado. “O governo não vai conseguir pagar a dívida com montante tão reduzido, mas, com essa medida, mostrará que sabe administrá-lo. Será uma sinalização de equilíbrio para os investidores”, afirmou.

Alex Agostini, economista-chefe da Agência Austin Rating, destaca que é fundamental observar a destinação legal da arrecadação com a cessão onerosa. Como o governo ainda não divulgou o que vai fazer, ele aponta que a expectativa do mercado é de que parte do dinheiro seja para reduzir o rombo nas contas públicas e outra parte vá, efetivamente, para as despesas não obrigatórias (emissão de passaporte, Farmácias Populares, Bolsa Família e outros programas sociais que distribuem renda e incentivam a circulação de dinheiro) que não podem ser descontinuadas.

“Assim, evita-se novos contingenciamentos. É um dinheiro que vai ajudar, ainda que pouco, a alcançar a meta do resultado primário e mostrar para o mercado que há uma preocupação em não paralisar a economia”, defendeu Agostini.

Na opinião do economista Geraldo Biasoto “é hora de cobrir os buracos”.  “O total que vai chegar é como um pingo d’água no oceano para União, estados ou municípios. Mas a falta de dinheiro para bolsas no CNPq e Capes, por exemplo, paralisa ações cruciais em laboratórios de pesquisa fundamentais para a sociedade” afirmou.