Correio Braziliense, n. 20593, 10/10/2019. Economia, p. 6

Deflação em setembro reforça queda de juros

Anna Russi
Cristiane Noberto


O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de 0,04% em setembro. É o menor valor para o mês desde 1998, quando ficou em baixa de 0,22%. Em setembro do ano passado, a taxa cresceu 0,48%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ministro da Economia, Paulo Guedes, encarou o resultado de forma positiva. “Inflação baixa mostra que o Brasil tem condições de baixar juros. O que está acontecendo é que a economia está começando a crescer com inflação baixa”, disse, em São Paulo.

Para o professor Istvan Kasznar da FGV Ebape, para que o movimento de queda continue, são necessários alguns fatores, como aprovação da reforma da Previdência e a criação de novos postos de trabalho. No entanto, ele acredita que quedas sucessivas serão mais difíceis.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, explicou que o resultado do mês passado pode ser analisado de duas formas. “Positivamente, significa que o Brasil tem a inflação controlada e o Banco Central pode continuar o processo de queda de juros de forma tranquila. Além disso, a previsão para 2020 poderá ser reduzida. Por outro lado, essa deflação não foi causada apenas por fatores sazonais, e sim por uma atividade fraca, uma economia deprimida. Ou seja, ainda tem muita coisa fora do eixo no país. O resultado reforça o cenário de que o país precisa arrumar a situação fiscal”, avaliou.

Agostini destacou que os preços mais baixos indicam que a demanda não está como deveria. “Com isso, o Banco Central precisa estimular o consumo. A taxa de juros mais baixa reduz o interesse de investidores em títulos públicos e aumenta o no consumo”, esclareceu.

A expectativa do Banco Central para a inflação de 2019 atualizada, semanalmente, pelo Boletim Focus, é de avanço de 3,42% no IPCA. A meta para este ano, estabelecida pela autoridade monetária, é de 4,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

 

Grupos

Em setembro, o resultado foi puxado, principalmente, pelo grupo alimentação, com queda de 0,43%. O de artigos de residência apresentou a maior redução, de 0,76%. Embora em setembro o grupo transportes não tenha registrado aumento significativo, os últimos meses apresentaram variação grande no preço dos combustíveis, que subiram 0,12% em setembro. Enquanto o etanol e o óleo diesel registraram alta de 0,46% e 2,56%, respectivamente, a gasolina recuou 0,04%.

O auxiliar de serviços gerais, André Luiz Ramos, 26 anos, viu no trabalho com aplicativos de caronas uma forma de conseguir manter os custos do carro. “Com o aplicativo consigo manter a gasolina e outras manutenções. Se não fosse assim, não conseguiria nem ter o carro”, explicou.

 

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira