Correio Braziliense, n.20740, 05/03/2020. Cidades. p.19

Mais um feminicídio no DF

Matheus Ferrari 

Walder Galvão 


Camila de Oliveira, 33 anos, foi encontrada morta em um matagal no Recanto das Emas. O principal suspeito de ter cometido o assassinato é o namorado dela, preso pela Polícia Civil. É a quinta morte violenta de mulher neste ano no Distrito Federal

Após um mês sem registros de feminicídio, o Distrito Federal registrou mais uma morte violenta de mulher, a quinta em 2020. Mãe de três filhos, Camila de Oliveira, 33 anos, estava em Samambaia com um casal de amigos, na madrugada de terça-feira, quando decidiu encontrar o namorado. Durante a manhã, pedestres encontraram o corpo dela com ferimentos na cabeça, em um matagal no Recanto das Emas, próximo à zona rural conhecida como Fazendinha. O companheiro dela é o principal suspeito de ter cometido o crime. 

Camila conheceu o namorado há poucos meses, mas vivia à sombra do medo. Testemunhas contaram aos investigadores da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas) que o homem teria a ameaçado de morte e que a mataria com pedradas na cabeça. O delegado à frente do caso, Pablo Aguiar, ressaltou que há fortes indícios de que o namorado tenha cometido o feminicídio. “Com ele, encontramos uma jaqueta com pingos avermelhados. Peritos confirmaram que o líquido é sangue humano e, agora, o IPDNA (Instituto de Pesquisa de DNA Forense da Polícia Civil) vai analisar para saber se o material pertence à vítima”, explicou.

De acordo com o investigador, os agentes conversaram com amigos e familiares de Camila, e buscam mais provas para comprovar a participação do suspeito no crime. “Agora, estamos verificando câmeras de segurança da região, no trajeto que leva para a rodovia onde o corpo foi encontrado. Essas imagens podem comprovar que eles estiveram juntos”, comentou. Segundo Pablo, o suspeito deve passar por audiência de custódia na manhã de hoje.

A Polícia Civil não divulgou o nome do namorado de Camila, entretanto, informou que ambos moravam em Samambaia. O suspeito tem passagens na polícia por roubo e furto, mas não confessou o assassinato da mulher. “Em razão dos elementos que coletamos nas investigações, o autuamos por feminicídio”, esclareceu. O investigador acrescentou que a hipótese dos agentes é de que a vítima tenha chegado ao lugar do crime e tenha sido assassinada no próprio local. 

Despedida

O adeus a Camila foi marcado pelo silêncio e pela comoção de familiares e amigos. Cerca de 50 pessoas se reuniram para prestar as últimas homenagens à auxiliar de cozinha, na tarde de ontem, no Cemitério Campo da Esperança, em Taguatinga. Segundo Daniel Araújo, 38, irmão mais velho da vítima, Camila “era uma pessoa boa e querida por todos. Não fazia mal a uma formiga”, disse.

Para Daniel, o assassinato da irmã pôs fim aos sonhos de uma mulher batalhadora e que tinha a cozinha como grande paixão. “Ela trabalhava como auxiliar de cozinha, em um restaurante, em Samambaia. Sempre trabalhou no ramo da alimentação. Chegou a ter o próprio negócio, um trailer, onde vendia salgados, também em Samambaia. Ela gostava muito dessa área. Fazia isso muito bem. Todo mundo elogiava”, contou.

Camila deixa três filhos: uma menina de 15 anos e dois meninos, ambos com 11. As crianças, segundo familiares, devem seguir morando com os avós, em Samambaia, onde já residiam juntamente com a mãe.

Aumento de casos

A quantidade de mortes violentas de mulheres, por questões de gênero, cresce no Distrito Federal. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SPP) mostram que ocorreram 28 casos de feminicídio em 2018. Em comparação com o ano passado, quando houve 33 registros, o crescimento de crimes desta natureza foi de 17%. Além disso, o total de ocorrências em 2019 é o maior desde 2015, quando esse tipo de assassinato passou a ser considerado um qualificador para o homicídio. 

Apesar do DF não ter registrado nenhum crime de feminicídio em fevereiro, a quantidade de casos deste ano já ultrapassa o número de ocorrências registradas no mesmo período do ano passado. Até 3 de março de 2019, três mulheres morreram por questões de gênero no DF, 66,6% a menos do que neste ano. 

Onde pedir ajuda?

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência — 

Secretaria de Políticas para as  Mulheres da Presidência da República

Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)

De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h

Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)

Entrequadra 204/205 Sul - Asa Sul

(61) 3207-6172

Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos

Telefone: 100

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar

Telefones: (61) 3910-1349 / (61) 3910-1350