Correio Braziliense, n. 21361, 09/09/2021. Política, p. 2

Deputado: atos foram antessala do golpe
João Vítor Tavarez
09/09/2021



O teor das manifestações de 7 de setembro significam a preparação para um golpe, sobretudo porque, durante os atos, o presidente Jair Bolsonaro fez, mais de uma vez, ameaças às instituições e estimulou desobediência às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). A análise é do deputado Professor Israel Batista (PV-DF) e expressada na edição de ontem do CB.Poder — realização do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília.

Para o parlamentar, a incitação promovida por Bolsonaro deixam nítidos crimes cometidos pelo chefe do Executivo, algo que embasaria a abertura de um processo de impeachment. "O que muda, essencialmente, é que, antes, as falas do presidente permitiam debate entre os juristas. Porém, o discurso de Bolsonaro em São Paulo não permite mais que juristas discordem sobre o crime de responsabilidade e o ataque às instituições", disse. E acrescentrou: "Não podemos desconsiderar que o estresse das instituições nunca foi tão grande desde a redemocratização".

Batista considera pequena, mas barulhenta, a quantidade de apoiadores de Bolsonaro, mas nem por isso menos perigosa. "Apesar de o presidente ter apoio de uma parte minoritária da população, que acredita ser maioria, essa parcela está radicalizada, já definindo seus adversários — que infelizmente são instituições democráticas, sobretudo o Supremo Tribunal Federal. Ele constrangeu o Supremo abertamente, citando o ministro Alexandre de Moraes", salientou.

O deputado considera que as instituições não estão dando uma resposta à altura que o momento exige. Segundo Batista, "estão trabalhando com o cenário de respeito às regras do jogo, trabalham com um político que pretende disputar eleições. Mas Bolsonaro mostrou que as eleições são um detalhe no projeto de tomada do poder".
Essa fraqueza institucional, de acordo com Batista, pode ser observada no pronunciamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL): "Ele ainda não está entendendo que o momento não é de normalidade e acredita na possibilidade de se abrir diálogo. Mas Bolsonaro não quer diálogo", sintetizou.