Correio Braziliense, n. 21353, 01/09/2021. Política, p. 4

Carlos tem sigilos quebrados
01/09/2021



Decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro é relativa à investigação contra o vereador, filho do presidente Jair Bolsonaro, por suspeita de prática de "rachadinha" e contratação de funcionários fantasmas na Câmara Municipal fluminense

A Justiça do Rio de Janeiro determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar é investigado desde julho de 2019 pelo Ministério Público do Estado (MP-RJ) por suspeita de praticar "rachadinha" — apropriação de parte do salário dos assessores — e contratar funcionários fantasmas em seu gabinete na Câmara Municipal. Em outra investigação, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), irmão de Carlos, também é acusado de ter praticado "rachadinha" quando era deputado estadual no Rio.

Outras 26 pessoas e sete empresas tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados, em 24 de maio, pela ordem judicial, na mesma investigação sobre Carlos Bolsonaro. A apuração foi aberta após reportagem da revista Época revelar que duas pessoas nomeadas como assessoras parlamentares afirmaram nunca terem exercido funções no gabinete de Carlos.

A quebra dos sigilos do vereador foi revelada pela GloboNews. A investigação corre em segredo de Justiça. Carlos integra a Câmara Municipal do Rio desde 2001. Foi eleito aos 17 anos, ajudado pela força eleitoral do sobrenome do pai e está exercendo o seu sexto mandato.

A informação sobre a quebra de sigilos veio à tona a uma semana das manifestações convocadas pelo presidente da República para o feriado de 7 de setembro. Bolsonaro conclamou seus seguidores a protestar contra o Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

O então procurador-geral de Justiça do Rio, José Eduardo Gussem, deu início à investigação envolvendo o gabinete de Carlos. Mas, após decisão do Supremo, a apuração foi encaminhada para a primeira instância e tramita na 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo do Rio.

Dinheiro

Ao longo dos mais de 20 anos como vereador, Carlos fez aquisições de bens de alto valor pagando com dinheiro em espécie. Em setembro do ano passado, o Estadão revelou que, em 2003, o vereador pagou R$ 150 mil (cerca de R$ 370 mil em valor atualizado) em dinheiro ao comprar um apartamento no bairro da Tijuca, na zona norte. O episódio foi citado pelo MP-RJ ao pedir a quebra de sigilos do parlamentar.

Como mostrou o jornal paulista ainda em 2019, duas pessoas nomeadas como assessores no gabinete de Carlos na Câmara nunca emitiram crachá funcional nem registraram entrada como visitantes na sede do Legislativo municipal do Rio, onde supostamente trabalhavam. Mesmo se exercer função externa, o servidor precisaria fazer uma dessas duas coisas para comprovar presença no trabalho, segundo a Câmara informou à época.

Documentos obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) mostraram que Claudionor Gerbatim de Lima e Márcio da Silva Gerbatim, investigados pelo Ministério Público do Rio, passaram o período em que estavam lotados no gabinete de Carlos sem ter a presença atestada pelo sistema da Câmara em nenhum dia. A reportagem não conseguiu contato com o vereador ou sua defesa até a conclusão desta edição.