Correio Braziliense, n. 20596, 13/10/2019. Política, p. 4

Tensão política e revolta nas ruas



Além da Argentina, a Colômbia vive sob tensão com o ressurgimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O grupo havia abdicado da luta armada e se tornado um partido político, mas, recentemente, convocou seus integrantes a pegarem novamente em armas.

No Equador, um acordo com o Fundo Monetário Internacional para viabilizar um empréstimo de US$ 4,2 bilhões gerou revolta e levou a população às ruas. Para receber o dinheiro, o governo eliminou benefícios como o subsídio aos combustíveis, o que gerou um aumento de 123% no preço dos produtos nas bombas.

No Peru, uma grave crise política resultou na destituição do Congresso pelo presidente Martín Vizcarra. O país chegou a ter dois presidentes em um só dia, após os parlamentares tentarem reagir com a entrega do comando do Executivo para a vice-presidente Mercedes Aráoz, mas ela não resistiu mais do que 24 horas. No embate, Vizcarra saiu fortalecido e viu a popularidade aumentar.

Grupo de Lima

Em meio à crise na Venezuela, foi criado o Grupo de Lima, um fórum de articulação política que tem como objetivo acompanhar e buscar formas de estabilizar politicamente o país caribenho. Formado por 14 nações, incluindo o Brasil, o bloco patrocinou campanhas de ajuda humanitária, mas tem atuado no sentido de isolar o regime comandado por Nicolás Maduro.

Apesar do objetivo específico, o Grupo de Lima ganhou um novo contorno ao se manifestar recentemente sobre a crise política no Peru. O analista político Leopoldo Vieira, chefe executivo da consultoria IdealPolitik lembra que a operação Lava-Jato, que gerou turbulência no Brasil, levando para a cadeia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes das cúpulas do Executivo e do Legislativo, também teve efeitos no Peru. “A versão local da operação Lava-Jato levou à erosão do sistema político em um nível maior do que no Brasil, mostrando que o combate à corrupção pode provocar situações de gelatinosidade e ilegitimidade das instituições, a ponto de quase não restar caminho, a não ser uma constituinte originária”, diz.

Para Leopoldo Vieira, apesar de viver situação menos turbulenta, o Brasil começa a dar sinais de deterioração do sistema político, com a perda de apoio do presidente. “Jair Bolsonaro tem se projetado muito mais como um futuro não desejado por outros países que pensaram em dar uma chance à direita radical. Ele vai perdendo aprovação devido ao discurso polêmico e denúncias de corrupção — paradoxalmente, o vetor que o fez ganhar a eleição, na esteira da Lava-Jato”, completa. (RS)