Correio Braziliense, n. 20596, 13/10/2019. Política, p. 3

Defesa da Amazônia em Aparecida

Augusto Fernandes


O presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer duras críticas ao exterior devido à constante exposição da Região Amazônica ao redor do mundo em razão das queimadas florestais, que mobilizaram outros países a oferecerem ajuda ao Brasil para conter a situação. De acordo com Bolsonaro, “países de primeiro mundo estão de olho no índio, na floresta e nas riquezas mineiras da região” e ele não vai transformar a Amazônia em um “parque ecológico para o mundo”.

“Alguns querem que nós demarquemos a Amazônia toda como um grande parque ecológico para o mundo. Isso não vai ser feito no que depender do meu governo. É buscar maneiras, como estamos fazendo, de desenvolver a região respeitando o meio ambiente”, disse Bolsonaro ontem, em entrevista à TV Aparecida.

Apesar do levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de que o número de focos de queimadas em áreas de demarcação indígena de janeiro a setembro deste ano tenha dobrado em relação ao mesmo período ano anterior — são 5.242 focos contra 2.544 dos nove primeiros meses de 2018 —, Bolsonaro garante que “nós temos uma das médias menores dos últimos 15 anos” e que “não tem por que do alvoroço”.

“Aquela região, desde há muito, tem problemas com queimadas. Só pelo seu tamanho, é impossível tomar conta de tudo aquilo, mas fazemos nossa parte”, afirmou o presidente. “Quando nós dermos o título de propriedade para muita gente que não tem naquela região, ao identificarmos qualquer anormalidade saberemos quem é o responsável. Alguns países têm aquilo como área sua. E qualquer problema que tenha em especial no meu governo, que não é de esquerda, que era tão elogiada por eles, nos atacam”, complementou.

Ontem à tarde, ele foi um dos holofotes em Aparecida (SP), em razão dos festejos da padroeira do Brasil, Nossa Senhora de Aparecida. Primeiro mandatário do país a visitar a cidade em um 12 de outubro, o presidente assistiu a uma missa de celebração à homenageada do dia e teve de lidar entre vaias e aplausos dos milhares de fiéis presentes no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Mais acostumado a ser ovacionado, o presidente fechou o rosto e pareceu surpreso com a acolhida, mas foi aplaudido após subir ao altar para fazer a Primeira Leitura — uma parte da liturgia.

Antes disso, em uma missa pela manhã, o arcebispo do município paulista, dom Orlando Brandes, fez críticas à política governamental. Com um sermão acalorado, o religioso alertou para a presença do “dragão do tradicionalismo” no país, sem citar nomes. “Nas escrituras, o dragão é o demônio, é o diabo, é o mal que desorganiza tudo. Satanás também tem as suas comunidades, grupos do mal, que tentam e atentam contra a vida”, explicou. O presidente deixou o santuário sem falar com a imprensa. À noite, ele viajou para a capital paulista, onde assistiu ao jogo entre Palmeiras e Botafogo, válido pelo Campeonato Brasileiro.