Correio Braziliense, n.20741, 06/03/2020. Brasil. p.5

Doença crônica piora a situação


A taxa de mortalidade por coronavírus é até nove vezes maior entre pessoas com alguma doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente. Segundo dados do governo chinês compilados por uma missão de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em fevereiro, no grupo de infectados que não tinham nenhuma comorbidade, apenas 1,4% morreu. Já entre os pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%. Considerando todos os pacientes infectados, a letalidade foi de 3,8%.

A análise do perfil foi feita com base em amostra de 55.924 casos e 2.114 mortes registrados na China até 20 de fevereiro. O país asiático confirmou 80.422 casos e 2.984 óbitos.

As estatísticas mostram a taxa de mortalidade para pacientes com diferentes tipos de doença crônica. No caso de diabéticos, o índice foi de 9,2%. Em hipertensos, a taxa observada foi de 8,4%. Entre aqueles que já tinham alguma doença respiratória, como asma, a letalidade foi de 8%. Entre os doentes com câncer, a taxa ficou em 7,6%.

 

Deficiência

Análises anteriores haviam mostrado que outro importante fator de risco para complicações é a idade. Segundo o relatório da OMS, acima de 80 anos, a mortalidade pela doença chegou a 21,9%.

Nos dois casos, a principal explicação por trás do risco é a resposta imunológica deficiente do organismo. Isso porque, como não há tratamento ainda para a infecção por coronavírus, as células de defesa do paciente é que precisam trabalhar para eliminar a ameaça. Nas pessoas com sistema imunológico enfraquecido, o corpo não consegue ter uma resposta igual à de uma pessoa saudável.

“Essas pessoas têm uma alteração na imunidade celular e nos processos inflamatórios. Geralmente elas têm um ou mais órgãos comprometidos, sem funcionar adequadamente. Quanto tem um processo inflamatório, esse órgão pode ser demandado ainda mais e não dar conta”, explica a infectologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De acordo com Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não só a condição crônica pode levar a uma infecção viral mais aguda, como a contaminação pelo vírus piora a doença preexistente. “Uma exacerba a gravidade da outra. A infecção viral também piora a doença de base, aumentando o risco de morte não só pelo vírus, mas por complicação da doença crônica”, diz.

Os especialistas explicam que o tamanho do risco para doentes crônicos vai depender do estágio da doença de base e do nível de controle dela. “Quanto maior o nível de cuidado daquela pessoa com a doença preexistente, melhor será a resposta, mas, mesmo com a doença controlada, o risco de complicações é maior do que o de uma pessoa sem nenhuma comorbidade”, explica o especialista.