Correio Braziliense, n. 20599, 16/10/2019. Política, p. 3

Ação da PF agrava crise no PSL

Renato Souza


Uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada como parte das investigações sobre candidaturas laranjas nas eleições do ano passado, agravou ainda mais a situação do PSL, que corre o risco de sofrer uma fragmentação das bancadas na Câmara e no Senado. O presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), foi alvo de mandados de busca e apreensão autorizados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. A ação da PF surpreendeu os partidários de Bivar, que travam uma queda de braço com os parlamentares bolsonaristas pelo controle da legenda. Em meio à turbulência, o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO), acusou o presidente Jair Bolsonaro de ter obtido acesso prévio às informações sobre a operação.

Nas duas semanas anteriores à ação da PF, o chefe do Executivo se reuniu pelo menos duas vezes com o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. De acordo com informações da agenda pública de Bolsonaro, no último dia 4, uma sexta-feira, ele se encontrou com Valeixo no Palácio do Planalto. Cinco dias depois, na quarta-feira, o presidente voltou a se reunir com o chefe da PF, que, desta vez, estava acompanhado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O assunto tratado durante os encontros não foi divulgado.

Ontem, no fim da tarde, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que Bolsonaro não teve conhecimento prévio da ação da PF. “O presidente desconhecia a operação. Não fez comentários. (Ele) entende que a operação, sendo de responsabilidade da Polícia Federal, órgão com tamanha relevância e confiança da sociedade, foi conduzida da melhor forma possível”, disse o porta-voz.

Rêgo Barros afirmou, ainda, que o presidente não considera a operação da Polícia Federal contra Bivar como uma “justa causa” para permitir que parlamentares aliados deixem a sigla sem perder o mandato, como vem sendo veiculado nos bastidores nos últimos dias. “O presidente não entende como justa causa (a operação da PF). Até porque seria como antever o futuro. E nenhum de nós é vidente em situações políticas”, disse. E acrescentou que Bolsonaro não decidiu se deixará o PSL: “Neste momento, o presidente avalia todas as possibilidades”.

Na terça-feira da semana passada, ao ser abordado por um apoiador em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente deu o primeiro sinal de que poderia se afastar do PSL. Ao gravar um vídeo com o presidente, o homem citou o nome do deputado: “Eu, Bolsonaro e Bivar juntos por um novo Recife”. Imediatamente, Bolsonaro pediu para que as imagens não fossem divulgadas. “Cara, não divulga isso, não. O Bivar está queimado para caramba lá. Vai queimar meu filme também. Esquece esse cara, esquece o partido”, disse o presidente.

As equipes policiais saíram às ruas logo cedo. A corporação cumpriu nove mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao parlamentar em Pernambuco. Entre os locais visitados, estava a sede do PSL em Recife e uma casa ligada a Bivar em Jaboatão dos Guararapes (PE). Segundo a PF, as investigações têm como alvo um esquema de desvio de recursos do Fundo Partidário que deveriam ser destinados à campanha eleitoral de candidatas da sigla. De acordo com os investigadores, as irregularidades ficaram comprovadas após “verificação preliminar de informações que foram fartamente difundidas pelos órgãos de imprensa nacional”.

Provas

Ainda segundo a PF, a operação tem como objetivo captar provas que possam ser usadas para fundamentar as acusações contra os suspeitos. “Tendo em vista que ao menos 30% dos valores do Fundo Partidário deveriam ser empregados na campanha das candidatas do sexo feminino, há indícios de que tais valores foram aplicados de forma fictícia objetivando o seu desvio para livre aplicação do partido e de seus gestores”, informou à PF, em nota.

A corporação informou ter solicitado autorização para realizar as buscas em agosto deste ano. No entanto, a Justiça levou quase dois meses para decidir. Em nota, o escritório do advogado Ademar Rigueira, que faz a defesa de Luciano Bivar e do PSL em Pernambuco, disse ver com “estranheza” o momento em que a operação foi realizada, tendo em vista que o partido passa por um momento de conflito com o Poder Executivo. “A busca é uma inversão da lógica da investigação, vista com muita estranheza pelo escritório (de defesa), principalmente por se vivenciar um momento de turbulência política”, destacou um trecho do documento.