O Estado de São Paulo, n. 46546, 26/03/2021. Política. p.A10

PT cede espaço na Câmara a PSB e PSOL

 

 

Movimento que teve aval do ex-presidente Lula é visto como gesto de aproximação visando alianças para a eleição presidencial de 2022

Pedro Venceslau

Em um gesto de aproximação com o PSOL e PSB visando a eleição presidencial de 2022, o PT abriu mão da prerrogativa de indicar parlamentares para os principais cargos da oposição na Câmara dos Deputados e apoiou a escolha de nomes das duas legendas. A liderança da minoria na Casa será ocupada pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e a da oposição por Alessandro Molon (PSB-RJ).

Com 56 deputados, o PT é a maior bancada da Casa e, por isso, tem a prerrogativa de escolher nomes do partido para ocupar as duas lideranças. "A ideia é unificar toda a oposição na ação política. Foi um gesto de aproximação em nome da unidade da esquerda", disse ao Estadão o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que participou das conversas e é um dos interlocutores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara.

Segundo ele, a articulação recebeu aval de Lula, que passou a ser apontado como provável candidato à Presidência da República no ano que vem após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que anulou as condenações que pesavam sobre o petista na Operação Lava Jato.

Com os direitos políticos restabelecidos, Lula tem feito acenos a diversos setores da sociedade e até a adversários políticos. A estratégia petista é buscar primeiro alianças no campo da esquerda e, em um segundo momento, abrir pontes com partidos do Centrão.

Na eleição presidencial de 2018, o PSB não apoiou formalmente nenhum candidato no primeiro turno, mas fechou com Fernando Haddad (PT) no segundo. A ideia inicial do partido para 2022 é buscar um nome de fora da política, que tenha capacidade de aglutinar as forças de centro. Representantes do partido mantêm conversas com o apresentador e empresário Luciano Huck, potencial candidato ao Planalto.

A entrada de Lula no cenário eleitoral, porém, deu força à tese da sigla entrar em uma coligação liderada pelo petista, reeditando uma aliança que marcou disputas presidenciais passadas.

Em outra frente, os partidos se reaproximam em Pernambuco, principal base do PSB. Petistas admitem abrir mão de disputar o governo do Estado ano que vem para apoiar o ex-prefeito Geraldo Julio (PSB).

No caso do PSOL, o partido, que nasceu de uma dissidência petista, já discute internamente pela primeira vez a possibilidade de não lançar candidato próprio ao Palácio do Planalto para apoiar Lula. Com o apoio ao nome de Freixo para líder da minoria na Câmara, a ala que prega apoio ao petista em 2022 ganhou musculatura. O arranjo na Câmara também abre caminho para uma aliança da esquerda na disputa pelo governo fluminense no ano que vem.

Depois de disputar a prefeitura do Rio de Janeiro duas vezes, Freixo é visto como um nome natural. Molon, por sua vez, poderia concorrer a uma vaga no Senado ou ser candidato a vice. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) será o líder da oposição no Congresso.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, considerou a decisão do PT um "gesto importante" de solidariedade, mas evitou falar sobre uma eventual aliança em 2022. "Conversei com Gleisi (Hoffmann, presidente nacional do PT). Agradeço o gesto, mas não se trata das eleições presidenciais. 2022 é uma questão em aberto no PSB", afirmou.

Unidade

“A ideia é unificar toda a oposição na ação política. Foi um gesto de aproximação em nome da unidade da esquerda.”

Reginaldo Lopes (PT-MG)

DEPUTADO FEDERAL

“Agradeço o gesto, mas não se trata das eleições presidenciais. (A eleição de) 2022 é uma questão em aberto no PSB.”

Carlos Siqueira

 PRESIDENTE NACIONAL DO PSB