Correio Braziliense, n. 20600, 17/10/2019. Economia, p. 7

Estagnação contribui



A falta de crescimento da economia e o avanço da informalidade são fatores que explicam o aumento da desigualdade social no Brasil, levando o Índice Gini para o pior resultado da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012. Essa é uma das constatações da economista Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, ao explicar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada ontem.

“Esse movimento passa pela piora no mercado de trabalho, com redução do número de trabalhadores com carteira assinada; queda no volume de contratações da indústria, onde salários são melhores; e aumento da informalidade no setor privado e de trabalhadores por conta própria”, explicou a analista do IBGE.

Segundo o estudo, 72,4% da renda média domiciliar per capita dos trabalhadores brasileiros foi proveniente de alguma forma de trabalho em 2018, abaixo do pico de 75,4% de 2014. Já a participação de aposentadorias e pensão é crescente, passando de 18,3% para 20,5% no mesmo período. A fatia do bolsa família complementando a renda média mensal encolheu de 15,9%, em 2012, para 14,9%, em 2014, e para 13,7%, em 2018. “Se pensar que os programas sociais estão relacionados às famílias mais pobres, essa redução acaba refletindo na perda do rendimento familiar”, comentou a técnica.

A pesquisa do IBGE revela, ainda, que houve redução da desigualdade no Nordeste A Região Norte ficou na lanterna, em função de uma queda maior nos segmentos de maior renda. “Isso mostra que todos perderam mais”, avaliou Marcelo Neri, do FGV Social. Pelos cálculos dele, a perda de renda acabou sendo menor entre mulheres do que entre os homens, desde 2014 até o segundo trimestre de 2019. “As mulheres foram o único grupo que registrou aumento na renda do trabalho, de 2%, enquanto a dos homens caiu 5%, porque são as mais educadas”, contou. “A crise prejudica menos os mais educados. Nesse caso, as mulheres. Eis um dado positivo”, completou. (RH)