Correio Braziliense, n. 20602, 19/10/2019. Política, p. 3

Embate pode parar na Justiça

Luiz Calcagno
Jorge Vasconcellos


O embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), subiu ainda mais de temperatura e pode parar na Justiça. Ontem, o parlamentar voltou a chamar Bolsonaro de “vagabundo” e o acusou de oferecer a parlamentares cargos e verbas do fundo partidário em troca do apoio à indicação do filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para líder da legenda na Câmara. Em reação, o presidente acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para saber que medidas criminais poderão ser adotadas contra o líder partidário. O Palácio do Planalto, porém, não quis comentar as acusações.

Delegado Waldir fez as acusações em entrevista coletiva, ao deixar, em Brasília, a convenção extraordinária do PSL, em meio à crise que opõe aliados do presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), e Bolsonaro.  Perguntado sobre o áudio vazado na quinta-feira, em que ameaça “implodir” Bolsonaro com informações comprometedoras e o chama de “vagabundo”, Waldir respondeu que a revelação que ameaçava fazer já tinha vindo a público. Ele se referia a uma outra gravação, também divulgada nesta semana, em que o presidente pedia a um parlamentar apoio à indicação de Eduardo Bolsonaro para o comando da liderança do PSL na Câmara.

“A gravação foi trazida a público no dia anterior. O presidente interfere no Parlamento, oferecendo a parlamentares que votassem contra mim...ele oferece fundo partidário, oferece cargos”, disse o líder do PSL, assegurando que a gravação com a fala de Bolsonaro ainda não foi divulgada na íntegra. Ele também afirmou que não dispõe de outros áudios. O líder do PSL acrescentou que pretende processar o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). O parlamentar carioca admitiu ter gravado o líder do partido insultando e ameaçando Bolsonaro durante reunião com a bancada na Câmara.

“Existe uma responsabilização criminal. A alegria dele não vai durar muito. Ele vai gastar um dinheiro. Vai ser solicitada apuração criminal e a responsabilização no Conselho de Ética. A conduta dele é uma esperteza. Com certeza, os parlamentares vão se posicionar, se foi esperteza, uma conduta antiética”, disse o líder do PSL.

Delegado Waldir descartou, ainda, a possibilidade de um acordo para que deputados aliados de Bolsonaro deixem o partido sem perder o mandato. “Não tem acordo. São parlamentares do PSL. Quem quiser pular do décimo sétimo andar do edifício para a morte pule. O mandato é do partido. Se estão cuspindo no prato do partido, que pulem para o precipício”, declarou.

Questionado sobre a origem da disputa interna do PSL, Waldir respondeu que Bolsonaro e família querem as chaves do cofre da legenda. “A conduta do presidente da República”, disparou,  é pela busca da chave do cofre do partido. Ele fez isso atacando o nosso presidente. Tentando enfraquecer o presidente (do partido) Luciano Bivar para, dessa forma, tomar o controle. Nos próximos anos têm eleições, e ele queria o controle de todos os diretórios do partido do país”.