O Estado de São Paulo, n. 46537, 17/03/2021. Metrópole. p.A18

Fiocruz defende vacina da Astrazeneca

 

 

Fundação que fará imunizante no País reforça avaliação de Anvisa, OMS e farmacêuticas de que não há indícios de formação de coágulos

Giovana Girardi

Após países europeus suspenderem o uso da vacina de Oxford/astrazeneca para investigar a ocorrência de coágulos entre pessoas vacinadas, a Fiocruz, que produz esse imunizante contra a covid no Brasil, afirmou ontem que ele tem se mostrado, até agora, "extremamente seguro e eficaz".

"Mais de 17 milhões de pessoas, na União Europeia e no Reino Unido, e cerca de 3 milhões no Brasil já foram vacinadas com ele sem que houvesse, até aqui, evidência de aumento de risco de formação de coágulos sanguíneos em nenhuma faixa etária", afirmou a fundação, em nota.

O posicionamento se segue a outros da Astrazeneca e da Anvisa. Anteontem, a agência brasileira informou que não há relatos no País de embolismo ou trombose comprovadamente ligados aos imunizantes anticovid. O órgão, porém, disse monitorar cinco ocorrências suspeitas de tromboembolismo entre os quase 3 milhões de brasileiros que receberam a vacina de Oxford – mas ressaltou que não foi estabelecida até agora uma ligação de causalidade entre a vacina e os eventos.

A Organização Mundial da Saúde e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também recomendam o uso e dizem que seus benefícios são maiores do que eventuais riscos.

A Fiocruz citou informações atribuídas à Astrazeneca de que foram relatados, até 8 de março, "15 eventos de trombose venosa profunda e 22 eventos de embolismo pulmonar" dentro de um universo de mais de 17 milhões de pessoas vacinadas na União Europeia e Reino Unido. Segundo o instituto brasileiro, apesar desses relatos, não foi demonstrada "evidência de aumento do risco de eventos trombólicos para nenhuma faixa etária, gênero ou lote de vacina de determinado país".

Na nota, a Fiocruz afirma ainda que sua área de farmacovigilância, que é responsável pelo monitoramento da eficácia dos medicamentos e vacinas registrados, está em contato com a Anvisa e com o Programa Nacional de Imunizações para monitorar notificações de eventos adversos e aguarda a conclusão das investigações.

Especialistas ouvidos pelo Estadão dizem que as evidências vistas até aqui não justificam interrupção do uso do imunizante. E a decisão, considerada precipitada, pode atrapalhar a adesão da população à vacinação. Entre janeiro e fevereiro, o Brasil recebeu 4 milhões de doses do imunizante produzidos pelo Instituto Serum, da Índia. As primeiras doses fabricadas no País estão previstas para serem entregues pela Fiocruz ao Ministério da Saúde ainda em março.

Para entender. Pelo menos 16 países suspenderam a aplicação da vacina: Áustria, Estônia, Lituânia, Letônia, Luxemburgo, Dinamarca, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Itália, República Democrática do Congo, Irlanda, Bulgária, Noruega e Holanda. As vacinas não costumam causar coágulos sanguíneos, disse Daniel Salmon, diretor do Instituto de Segurança de Vacinas da Universidade Johns Hopkins (EUA). Os coágulos sanguíneos são comuns na população em geral, e as autoridades de saúde suspeitam que os casos relatados em vacinados são mais provavelmente coincidentes e não relacionados à vacinação.

Em alta escala

17 milhões

de pessoas na Europa e mais 3 milhões no Brasil foram imunizadas com a vacina da Oxford-astrazeneca