Correio Braziliense, n. 20609, 26/10/2019. Brasil, p. 6

Avanço na educação infantil

Entrevista: Abraham Weintraub


É a promessa do ministro da Educação Abraham Weintraub para os próximos três anos. No Enem, vêm aí as provas digitais
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, prometeu resultados para a educação infantil nos próximos três anos. Ele afirmou que a prioridade do governo de Jair Bolsonaro é a alfabetização das crianças nos primeiros anos de vida e confirmou a implementação da Política Nacional de Alfabetização (PNA) para 2020, em entrevista ontem ao CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília.

Segundo Weintraub, o Brasil gasta 7% do Produto Interno Bruto (PIB) com educação e ensino, acima do gasto médio das economias mais desenvolvidas que integram a Organização para a Cooperação e e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que, conforme afirmou, gasta  menos de 6%. Ele admite, porém, que os recursos são mal gastos e de forma ineficiente. Ele comparou os gastos com ensino superior aos gastos com educação básica e disse que o orçamento de uma única universidade federal, de cerca de três milhões, é suficiente para colocar todas as crianças do país em creches.

Para ele, a digitalização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) significa um alinhamento com o “mundo civilizado”. Além disso, afirmou que se trata de uma mudança óbvia que ainda não ocorreu porque o Brasil estava “na era das trevas”. A partir do ano que vem, a modalidade estará disponível para 1% dos inscritos, nas maiores capitais, entre elas Brasília. Este ano, o exame será realizado nos dias 3 e 10 de novembro, em 1.727 municípios.

Há pouco mais de uma semana do Enem, os alunos podem ficar tranquilos? Está tudo certo para a prova?

Eu falei que a gente estava trabalhando e íamos resolver. Logo que eu entrei, tinha, de fato, a falência da gráfica responsável. Foi a primeira coisa que a gente resolveu. As provas estão todas impressas e estão encaminhadas. Então, o risco que estava sendo apontado está totalmente suplantado. Tudo impresso e a maior parte das provas já está no local.  São cinco milhões de jovens, brasileiros e estrangeiros, e quase meio milhão de pessoas envolvidas diretamente na implementação do Enem. Isso daí a gente vai ver acontecendo com uma das menores taxas de problemas da história. Eu não estou vendo absolutamente nenhum risco. Estou bem otimista quanto ao Enem. É o último ano que ele vai ser 100% no papel, no ano que vem começa a ser digital. Este ano serão oferecidos para quem quiser fazer digital 1% das vagas totais. Estamos selecionando grandes capitais, Brasília vai ser uma delas, para a gente começar com este piloto. Caso haja qualquer problema, evidentemente a pessoa vai poder fazer a prova física em papel. A gente quer acabar com o enem em papel até 2026, que está alinhado com o mundo civilizado.

O Brasil é muito desigual. Como vai ser a preparação dos alunos para que eles possam fazer o Enem digital? Já que eles precisam de um preparo para a tecnologia e os professores precisam estar preparados?

Com certeza, temos o programa de levar a internet para escolas remotas. As escolas locais já têm, está bem expandido. E já estamos levando internet por satélite, se não me engano, para cinco localidades remotas. Ao longo dos próximos anos, as escolas vão ter laboratórios de informática. Precisa ter, como você vai ter uma escola no Brasil sem ter acesso à internet? É como falar assim: vamos fazer uma escola sem livro e caneta, a gente ensina as crianças a escrever com um cinzel e um martelo. Não tem cabimento. O que é a nossa disposição? Trazer ciência, razão, transparência, eficiência na gestão do ensino. Insisto na palavra ensino porque quando a gente fala que o governo educa, entra em uma área de valores. E esse é um governo liberal.

O presidente Bolsonaro criticou muito as provas do Enem do ano passado, dizendo que tinham um forte viés ideológico. O que muda para as provas deste ano?

A gente sempre respeita o contrato, sempre respeita os processos. Estamos tirando gradualmente tudo que tem a ver com ideologia e trazendo tudo que tem a ver com conhecimento, dando ênfase a aspectos técnicos, e não doutrinários. A gente não quer doutrinar ninguém. A gente quer dar liberdade para as pessoas escolherem o que querem fazer com suas vidas. Respondendo objetivamente, o Enem deste ano vai ter uma melhora perceptível, objetiva, muito clara no tocante a qualquer questão de cunho doutrinário, ideológico, aquele ranço todo esquerdista, horroroso, e com ênfase em coisa técnico-científicas.

O Enem digital vai dar um salto qualitativo no exame?

Acredito que sim, pela flexibilidade que os exames digitais permitem quando você tem o instrumento. É uma coisa tão óbvia, que é de se estranhar que estejamos começando a fazer isso agora. É que o Brasil viveu nas eras das trevas, uma coisa bizarra. Tem coisas muito piores. Quando você pega o resultado do grande sucesso do modelo de educação no Brasil, a gente vê que o ensino básico é um fracasso retumbante. No terceiro ano, as crianças não conseguem ler escola, não conseguem escrever eu jogo bola.

Como corrigir esse fosso entre o que o que temos e o que o mundo pede, pessoas para a revolução digital?

Se a gente está nesta situação e continuar achando que está tudo bem, que Paulo Freire é maravilhoso, a gente não vai a lugar nenhum. Primeira coisa, vamos adotar critérios científicos para alfabetizar nossas crianças e nossos jovens. Tem que ter evidências empíricas que funcionam, se for só por que é bonito a luta do pobre e oprimido contra o malvadão capitalista, esquece. Então, falar a verdade, porque se não se reconhecer erros, não vai sair do lugar. Segunda coisa, não tem como fazer um ensino de alta tecnologia para uma pessoa que não sabe ler e escrever. Ler  e escrever é a base para a pessoa ser livre. O liberalismo fala de liberdade. Eu quero que as próximas gerações sejam capazes de ler e escrever para não serem enganadas por um demagogo com mentiras. Quando você lê e escreve bem, você consegue andar pela cidade, aprender um ofício. Se você tem um ofício, tem renda e não depende de uma bolsa esmola que um partido totalitário ameaça tirar se não for reeleito.

O que, de prático, o governo apresentou na Conferência Nacional de Alfabetização?

Estamos desconstruindo primeiro os dogmas. Em segundo, estamos trazendo todas as experiências que dão certo lá fora. Portugal era um dos piores lugares da Europa, em quatro anos empatou com os melhores.

E quanto à questão orçamentária? No ano que vem o orçamento já vai ter a obrigatoriedade de liberação das emendas, inclusive eles já querem pegar uma parte do dinheiro da cessão onerosa, e essas emendas não costumam investir na educação...

Não, não. Investem bastante na estrutura do ensino e da educação. Foram feitos muitos investimentos nas universidades, institutos federais. Com o dinheiro recuperado da Petrobras. Qual é o problema? é que hoje o maior custo fica na folha de pagamento, nas pessoas, na merenda. E isso tem baixo controle. A gente não gasta pouco com ensino e educação no Brasil, a gente gasta muito. Só que a gente gasta mal e de forma ineficiente. A gente está gastando 7% do PIB com educação, a média da OCDE é abaixo de 6%. O problema é gestão e escolhas. Gestão porque, do que a gente coloca, sai pouco resultado. Em números absolutos também, nossos alunos nas universidades, em dólar, custam mais do que na Coreia e no Chile, do que em Portugal e na Itália. E no ensino fundamental, a gente gasta mais que no Uruguai, que Colômbia, Peru, Argentina. A gente está empatado em dólares com o Chile, que é o mais bel colocado da América Latina. Então, são escolhas ruins e técnicas muito ruins. O orçamento de uma universidade federal das melhores é tudo acima de três bilhões de reais.

Estagiária sob a supervisão de Cláudia Dianni