Correio Brazilense, n. 20747, 12/03/2020. Economia. p. 8

Freio nos planos de investimento
Israel Medeiros

 

O indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), divulgado ontem, apontou uma alta de 7,8% em janeiro deste ano em comparação com o mês de dezembro de 2019. Em doze meses, os investimentos tiveram uma aceleração. A taxa de crescimento passou de 2,1% para 2,7%. Apesar dos números positivos, o novo coronavírus tem gerado um ambiente de incertezas entre os investidores brasileiros.

Leonardo Carvalho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que havia no mercado uma expectativa positiva em relação ao ano de 2020, mas que é difícil prever como a economia se comportará diante da pandemia da Covid-19. Ele explica que o otimismo devia-se, em parte, aos bons indicadores econômicos, mas que o avanço da infecção produz um clima de insegurança no setor. “Os fundamentos da economia ainda são positivos. Juros baixos, indicadores de confiança dos empresários otimistas. Mas tem a interrogação em relação ao coronavírus, que deve baixar o PIB mundial”, afirma.

Apesar do cenário desfavorável, Carvalho espera que os investimentos continuem crescendo. “Com relação ao cenário externo, tem o problema do coronavírus, que tem gerado um ambiente de desconfiança. Mas esperamos que os investimentos continuem acelerando, apesar da pandemia”, acredita.

O índice FBCF mede o quanto cresceu a demanda por bens de capital, que servem para produzir outros bens. É importante para medir se a capacidade de produção do país está crescendo, e também se os empresários estão confiantes na economia. O indicador é composto por três segmentos: máquinas e equipamentos, construção civil e outros ativos fixos.

Em relação a dezembro, o mês de janeiro viu os investimentos em máquinas e equipamentos crescerem 18,3%. Na construção civil, houve aumento de 5,7%. Os outros ativos, por sua vez, diminuíram em 0,7%. Em comparação com janeiro de 2019, todos os segmentos tiveram desempenho positivo: máquinas e equipamentos avançaram 11,4%; construção civil atingiu patamar 3,7% superior; e os outros ativos fixos apresentaram melhoria de 6%. No total, houve uma alta de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Segundo Leonardo Carvalho, a alta no mês de janeiro foi puxada pelo segmento de máquinas e equipamentos e pelo setor de construção, no qual a produção interna cresceu. Mas ele aponta que o resultado de janeiro é um reflexo do fim do ano passado. “O resultado de janeiro devolveu o que perdemos no último semestre do ano passado”, diz o pesquisador.

Para Carvalho, existem outros fatores a serem considerados para a manutenção do otimismo do investidor. “Uma boa parte da redução de incertezas está ligada ao encaminhamento de reformas. Isso é importante para quem investe. Tudo isso precisa de um cenário com pouca incerteza”, salienta.

* Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi