Correio Braziliense, n. 20614, 31/10/2019. Política, p. 4

Linchadores de reputação expostos
Luiz Calcagno
31/10/2019



No depoimento que prestou ontem à CPI das Fake News, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) nomeou aqueles que seriam os principais propagadores de notícias falsas supostamente em defesa do presidente Jair Bolsonaro. Um deles é Allan dos Santos, responsável pelo site bolsonarista Terça Livre, que foi convocado a dar depoimento na próxima terça-feira. Segundo o tucano, o blogueiro coordenaria o disparo de notícias falsas e as chamadas milícias virtuais que perseguem adversários políticos do governo. 

A reunião da CPI foi repleta de bate-bocas e, até, de manifestantes com cartazes chamando o parlamentar de “traíra”. Mas a primeira oitiva foi, no conceito de quem acompanhou, favorável ao deputado: Frota demonstrou preparo para responder às perguntas e trouxe material para endossar o que dizia, inclusive fotografias das pessoas que citou e prints de mensagens. 

Segundo Frota, cruzando os ataques virtuais contra a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), contra o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, contra o general Santos Cruz, e o presidente do PSL, Luciano Bivar, é possível identificar os mesmos participantes. Mostrou, ainda, prints de perfis que ele apontou como robôs, que fizeram postagens idênticas em um espaço de tempo muito pequeno e que tem um número muito pequeno de seguidores. 

“Se cruzar os dados, vocês vão ver que tem sempre as mesmas pessoas (atuando nos linchamentos virtuais). As mesmas pessoas trabalhando essa rede e, atrás disso vêm as operações robóticas. Considero que foi boa a sessão, apesar do tempo que levou. Temos que ter na cabeça que na época das campanhas nós sofremos com fake news. Ataques brutais de ambos os lados. Não só da direita radical, mas também da esquerda”, comentou Frota, que acusou a rede bolsonarista de potencializar um esquema de assassinato de reputações que já existia. 

“Isso não é invenção só da direita. Agora, esse trabalho sujo, esse trabalho baixo, de atacar aqueles aliados, que trabalham em cima do contraditório, que não aceitam uma determinada posição do presidente e passam a sofrer declarações absurdas e enormes, ameaça a familiares, filhos, esposas, vira um caos. A gente precisa combater isso”. 

O presidente da CPI, Ângelo Coronel (PSD-BA), afirmou que os documentos apresentados por Frota serão analisados pelo corpo jurídico da comissão. “Com isso, esperamos que venham a somar nas investigações”, disse. Existem, ao todo, 162 requerimentos de depoimentos, um deles do escritor Olavo de Carvalho. A expectativa é de que os trabalhos durem até abril, por conta do recesso parlamentar. 

Joice acompanha 

Depois de Allan dos Santos, convocado por requerimento do deputado Rui Falcão (PT-SP), em 12 de novembro, será a vez da ex-líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), que, aliás, acompanhou a sessão com Frota. 

“Também estou buscando muita informação, desde que passei a ser alvo constante das fake news e dos ataques claros à reputação. A minha veia de repórter se acendeu de novo. Chega ao ponto de eu ter prints de conversas de grupos de WhatsApp combinando qual é a forma de ataque, de fake news, de assassinato de reputação, dossiês falsos. O Código Civil e o Código Penal não deixam de valer porque a gangue atua na internet”, provocou. 

Também estão convocados para depor os assessores do Palácio do Planalto Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, todos acusados por Frota de coordenar as milícias de ataques virtuais. A reportagem procurou o Palácio do Planalto para questionar as acusações de Frota, mas a assessoria de imprensa disse que não comentaria.