Correio Braziliense, n. 21262, 11/08/2021. Economia, p. 7

Inflação avança sem trégua e chega a 8,9%
Fernanda Fernandes
11/08/2021



Dados do IBGE apontam crescimento de 0,96% no IPCA em julho. Energia elétrica, combustível e alimentos lideram alta de preços, que é mais sentida pela população de baixa renda. Especialistas veem cenário delicado nos próximos meses
Nem tanques, nem voto impresso. O que está tirando o sossego dos brasileiros é o avanço da inflação. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, ontem, dados sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) referente ao mês de julho. O período registrou 0,96% de crescimento, quase o dobro do registrado no mês anterior, quando o índice foi de 0,53%. Com o novo levantamento, o índice acumulado no ano chegou a 4,76%. Em 12 meses, quase bateu os 9%, registrando 8,99%. Entre os vilões da alta inflação estão a energia elétrica, o combustível e os alimentos — itens que castigam, principalmente, os mais pobres.

O economista Paulo Duarte, da Valor Investimentos, explica a "injusta" dinâmica da pandemia e da alta inflação. Enquanto uma parcela reduzida da população consome sem preocupação, milhões de brasileiros sofrem com a carestia em itens básicos. "Quando entramos nos componentes do IPCA, notamos que a energia elétrica, os combustíveis e os alimentos estão com inflação bem maior. São itens consumidos, principalmente, por cidadãos de renda mais baixa, fazendo com que a inflação efetiva seja maior para essa parcela da populção", diz.

Segundo Duarte, a alta nos alimentos, item mais básico da lista, vem sendo puxada pela supervalorização das commodities agrícolas. "Proteínas animais, soja, café, todos são itens afetados pela inflação", pontua o especialista.

De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), entre os alimentos mais impactados nos últimos meses, estão o óleo de soja, com 90% de aumento; a carne bovina, com 40%; e o arroz, com mais de 50%. Mas apesar da carestia nas prateleiras, o item mais pesado no IPCA ainda é a energia elétrica.

Nos últimos doze meses, os dados mensais do IBGE mostram um salto no IPCA de abril para maio, de 6,7% para 8%, período em que começou a ser cobrada a taxa de bandeira vermelha na conta de energia elétrica. Os dados divulgados ontem pelo instituto apontam que o reajuste de 52% na tarifa vermelha patamar 2, incidiu fortemente na conta de luz. O item, que entra dentro do grupo de habitação, corresponde, sozinho, a 0,35% do total acumulado no mês de julho.

Nesse cenário, sustentar a casa é um drama. Chauana Francisco, 32 anos, moradora de Osório (RS), sabe bem o peso da inflação no bolso. A auxiliar administrativa, mãe de Stella (8 anos) e Charlotte (8 meses), conta que, após o término da licença maternidade da filha caçula, foi despedida do emprego sem justa causa. Desde então, Chauana "se vira como pode", com o seguro desemprego no valor de R$1.100 e R$ 380 de pensão alimentícia.

"Eu não tenho carro, mas pago aluguel, internet, luz, água. Tudo está caro. O que mais pesa é o mercado e coisas para a bebê. Eu quase não consigo dar conta". Apesar das dificuldades, Chauana é otimista. "Confio muito em Deus. Tento fazer o melhor por elas", diz.