Correio Braziliense, n. 21256, 05/08/2021. Política, p. 3

Ciro: "Mudar de posição não é contradição"
Augusto Fernandes
Ingrid Soares
05/08/2021



O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tentou amenizar, ontem, o fato de, no passado, ter sido apoiador dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, e prometeu que vai trabalhar para pacificar as relações entre o governo federal e o Congresso Nacional. O discurso foi feito durante a cerimônia, no Palácio do Planalto, em que tomou posse no cargo.

Nogueira, que já chamou o presidente Jair Bolsonaro de "fascista", destacou não haver problema na mudança de postura. "Mudar de opinião não é contradição, desde que seja para melhor", frisou. Em outro aceno ao chefe do Executivo, ele disse que o governo está "fazendo o que é certo" e que, apesar de o presidente ser alvo de críticas, será "reconhecido e aclamado" no momento certo.

"A democracia é líquida e certa, difícil por natureza, mas é a coisa certa. É por ela que estou aqui, é por ela que estamos todos aqui. É por ela, presidente, que o senhor está aqui. Para cuidarmos dela, para zelarmos por ela, para aprofundarmos nas adversidades e nas diferenças a nossa realidade democrática", ressaltou.

Líder do Centrão, o ministro comentou que seria mais fácil ter recusado o convite de Bolsonaro para chefiar a Casa Civil, mas que, se tivesse feito isso, teria tomado uma decisão equivocada. Ele disse querer ser um "amortecedor" dentro do governo, para que possa amenizar o relacionamento do Executivo com os demais Poderes. De acordo com o político do PP, enquanto Bolsonaro será o "timoneiro", ele estará como ajudante, que vai "avisar sobre os perigos" e "tentar ajudar a enxergar no meio da névoa, querendo auxiliar a encontrar o rumo certo".

"Temos agora, até o final do atual governo, um período que conduzirá às eleições de 2022, e é nosso dever conduzir o país para chegar às eleições da forma certa. Com a economia no prumo certo, com a política ajustada da maneira certa, com a vacinação, volto a ressaltar, garantida e certa para todos os brasileiros", acrescentou.

Elogios
A cerimônia lotou a sede do Executivo, a despeito da pandemia, com a presença de deputados federais e estaduais, senadores e governadores. A cúpula do PP também compareceu em peso ao evento.

Diante da presença em massa de parlamentares, Bolsonaro disse que "a chegada do Ciro Nogueira é uma demonstração de que queremos, cada vez mais, aprofundar o relacionamento com o Parlamento". Segundo ele, "o Brasil vai ganhar com a presença de Ciro, nos articulando com o Parlamento brasileiro".

"Não é a primeira vez que eu digo que Executivo e Legislativo são, na verdade, um só poder. Quase tudo que, porventura, nós venhamos a decidir por aqui, passa pelo Parlamento. E muitos projetos que nascem lá (Congresso) dependem do governo para a sua implementação", enfatizou Bolsonaro. "Temos, hoje, uma convivência extremamente pacífica, salvo alguns senões. Quanto melhor nós, Executivo e Legislativo, nos entendermos, melhor é para 210 milhões de pessoas."

Bolsonaro aproveitou para elogiar o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), presente na cerimônia. "Nós aqui somos um só governo. União e Distrito Federal é um casamento perfeito", destacou. Em abril, num evento em São Sebastião, Ibaneis disse ter o prazer de se intitular "apoiador do governo".