Título: Pescadores propõem soluções
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 27/03/2005, Rio, p. A16

O governo federal costumava usar a ilha como paraíso particular. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passava as férias numa casa confortável, com ar-condicionado, antena parabólica e uma visão espetacular da Baía de Sepetiba. A quarenta minutos a pé da residência oficial, estão as casas dos pescadores. Seu Tião, 67 anos de idade, nascido na ilha, não lembra o próprio sobrenome. ''Nunca precisei de sobrenome para ser pescador'', diz. Assim como ele, todos os homens que moram na ilha vivem da pesca. Até Natan Benedito, de apenas seis anos de idade, acompanha os outros. Mas a época é de defeso da tainha, o que complica bastante o sustento das famílias. Sem peixe, não há outra opção de renda. Sheyla Alves Mariano, 32 anos, mesmo sem conseguir fazer o ensino médio - na ilha, só existe ensino básico - fez um projeto para o cultivo de uma fazenda marinha de mexilhões e camarões. Conseguiu patrocínio com uma empresa de mineração, mas a primeira tentativa não deu certo. Uma embarcação destruiu o viveiro. Sheyla perdeu o patrocínio, e tenta agora com outras empresas.

- Precisamos criar um meio de sustento alternativo para a comunidade. Temos o direito de trabalhar - insistiu Sheyla.

Ela aproveitou a visita do ministro para sugerir que fosse feita uma vistoria nas colônias de pescadores para impedir a pesca predatória. De acordo com Sheyla, os ''barcos de rolo'' vindos de Cabo Frio arrasam a área.

A geração mais nova tem muitas propostas para fortalecer a comunidade. Bárbara Cassiana, 20 anos, tenta um empréstimo para comprar material de pesca. Segundo ela, com R$ 6 mil do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) seria possível criar uma pequena empresa na comunidade.

- Mas como eu, pescadora, sem comprovante de residência, vou conseguir fiador para este empréstimo? - questiona.