Correio Braziliense, n. 21247, 27/07/2021. Política, p. 4

Bolsonaro: "É o que tenho para trabalhar"
Ingrid Soares
27/07/2021



Em entrevista a uma rádio da Paraíba, presidente justifica o casamento com o Centrão e diz que não vê nada de excepcional no fato de Ciro Nogueira responder a processo no Supremo

O presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, justificou a possível ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil da Presidência e o relacionamento cada vez mais estreito com o Centrão. Em entrevista à Rádio Arapuã, da Paraíba, ele comentou sobre os inquéritos que o parlamentar responde na Justiça.

Ciro é investigado em três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) — em dois, o Ministério Público Federal já ofereceu denúncia, mas ainda não foram aceitas pela Corte. As investigações correm no âmbito da Operação Lava-Jato e o parlamentar é acusado de receber e pagar propina.

Segundo Bolsonaro, se cortasse relações com deputados e senadores que respondem a inquéritos, "perderia metade do parlamento". E usou um exemplo pessoal para sustentar o argumento.
"Se eu afastar do meu convívio parlamentares que são réus ou têm inquéritos, eu perco quase metade do parlamento. Quem colocou o Ciro aqui? Eu? Eu sou réu no STF, sabia disso? Aquele caso da Maria do Rosário (deputada federal pelo PT-RS). Então, não deveria estar aqui também. Acho que todos nós só somos culpados depois da sentença transitada em julgado. Então, se o Ciro, ou qualquer outro ministro meu for julgado e condenado, obviamente se afasta do governo. Mas, no momento, é o que tenho para trabalhar em Brasília", disse.

Também durante a entrevista, Bolsonaro explicou que, caso não obtenha o apoio do Centrão, não conseguirá aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pretende enviar ao Congresso para reajuste do Bolsa Família. No último dia 23, em aceno ao próprio eleitorado, o presidente justificou que a aproximação com o bloco é necessária por conta da "governabilidade". Destacou, ainda, que é "obrigado" a formar a coalizão, pois "com apenas 150 deputados, não iria a lugar nenhum". Bolsonaro deve se reunir hoje com Ciro para acertar os últimos detalhes.

Sobre as promessas de campanha em 2018, de que não governaria com os partidos de centro, e pela aparente proximidade com a estratégia utilizada durante governos do PT em busca de apoio no Congresso, Bolsonaro disse que há uma "grande diferença". "Eles, Lula e Dilma, distribuíram estatais para os partidos políticos. A Petrobras, os Correios, o BNDES, a Caixa Econômica, Banco do Brasil. Nada disso está nas mãos de políticos no meu governo. Então, há uma diferença enorme entre o que Lula e Dilma fizeram no passado e o que eu faço agora".